quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Foto do Dia. Love me tender.


Quando visitamos portos mais bucolicos como Buzios, Ilha Grande e Ilha Bela, não é possível atracar o navio ao porto. Então, para levar os passageiros para seus passeios em terra utilizamos os tenderboats, esses barquinhos que parecem vans oceânicas. Uma das minhas funções a bordo é assegurar que nenhum hóspede perca o último tender de volta ao navio. Em outras palavras, eu circulo por Búzios gritando "Vision of the Seas! Último Tender para o Vision of the seas!"
Isso me valeu o apelido de "o louco do cais de búzios".

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Foto do Dia. Uma noite de trabalho.


Eis a noite na Viking Crown - a boate do navio e, portanto, meu escritório - sob o ponto de vista do DJ (este que vos escreve). A foto saiu meio sem foco mas, a essa altura da balada, eu já estava enxergando tudo sem foco, mesmo (felicidade é poder beber no emprego). Assim sendo, é um enfoque bem realista do meu dia-a-dia (ou noite-a-noite, como preferir).

Diário de Bordo. Loompa-Loompas.

Nunca fui muito bom em geografia. Durante boa parte da minha vida, ignorei a existência de diversas nações. Claro, a vida no navio muda isso tudo. Tomei conhecimento, por exemplo, da existência das Filipinas. Quer dizer, da existência de Filipinos. Continuo duvidando da existência do país em si, uma vez que toda sua população parece estar a bordo dos navios de cruzeiro ao redor do mundo. Trata-se, ao meu ver, de uma nação sem território, ou com território móvel, como preferir.
Pois a maior parte dos navios de cruzeiro do mundo tem sua tripulação formada principalmente por filipinos e indianos. Eles falam um inglês muito peculiar, usam um macacão azul de uniforme, normalmente trabalham em cargos de limpeza e manutenção técnica do navio. A grande parte não tem permissão para circular entre os hóspedes, a menos que durante o exercício de suas atividades.
Assim sendo, muitos hóspedes não se dão conta que essa classe operária existe. E quando os encontram, tem dificuldade de diferenciá-los por sua origem. São todos baixinhos, morenos, usam bigodinhos estranhos e macacão azul. Lembram o filme "A Fantástica Fábrica de Chocolate", onde homenzinhos trabalham nos bastidores de uma misteriosa empresa fazendo os melhores chocolates do mundo. Eles também não aparecem em público e também são provenientes de países exóticos.
Por essas e outras, quando circulo pelas catacumbas do navio e vejo um dos nossos loompa-loompas carregando bagagens ou reparando encanamentos danificados, não consigo deixar de cantarolar a famosa canção do clássico do cinema: Dumpa, dumpa, dumpa dee-dooo...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Diario de Bordo. Do mar, o Rio.

No meu album do Orkut, imagens interessantes do Rio de Janeiro, do ponto de vista dos navegantes.

http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=13561502833632249489&aid=1260614318

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Diário de Bordo. Perguntas que não querem calar.

A fim de cada cruzeiro vão-se os passageiros mas as perguntas cretinas permanecem, para que os próximos passageiros as repitam com aquela cara de quem teve um insight de curiosidade brilhante. Aqui vão algumas, mas é bem provável que esta se torne uma nova sessão do blog, tamanha a sandice dos nossos honrados hóspedes. (não estranhem a falta de pontos de interrogação. não consegui configurar o maldito teclado descentemente. O que estiver entre aspas deve ser lido como pergunta. Em seguida, vão as respostas que eu gostaria de poder dar)

1 - "O navio produz sua própria energia elétrica"
R - Claro que não. Durante toda a viagem, o navio fica ligado na tomada do porto de Santos. Um Filipino fica na popa dando fio e tomando conta para que o cabo não fique muito esticado.

2 - "A água do vaso sanitário é doce ou salgada"
R - Meu senhor, a marinha brasileira exige que a água do vaso tenha gosto de suco de kiwi. Para sua segurança, eu sugiro que o senhor faça o teste todos os dias pela manhã.

3 - "Esta escada é pra subir ou pra descer"
R - Nem pra subir, nem pra descer. Esta escada foi especialmente projetada para corrigir as diferenças de altura entre casais. Se o seu marido for muito mais baixo que a senhora, basta posicioná-lo dois degraus acima para que vocês se sintam do mesmo tamanho.

4 - "Por que a boate tem esse cheiro de cigarro"
R - Os especialistas da Companhia ainda estão estudando esse caso e há divergências. Mas a corrente mais aceita acredita que é devido ao fato de que as pessoas fumam lá dentro.

5 - "Os funcionários do navio dormem em cabines"
R - Não. Terminado o dia de trabalho, nos dirigimos para a popa do navio e esperamos pela condução que nos levará de volta aos nossos lares. A linha 567 - Mediterrâneo - Caxias serve pra mim, se não tiver muito trânsito.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Diario de Bordo. A Viagem do Descobrimento.

Passei um tempo sem escrever por varios motivos. Primeiro, o novo navio nao dispoe das mesmas regalias para crew members que o Voyager oferecia. O Vision of the Seas e´ mais antigo, e nem todas as tecnologias sao de facil acesso. Por exemplo, ao chegar abordo, eu recebi um Bip. Sim, um pager. Para quando meu chefe precisar me localizar. Eu nao via um bip tinha uns 15 anos. Se esse navio fosse um pouco mais antigo, acho que eles mandavam a Lessie me procurar quando precisassem de mim.
Pois muito bem, a travessia de Portugal ao Brasil foi interessante. Na medida que e' interessante ficar 14 dias dentro de um asilo que balanca. A me'dia de idade dos guests dava a entender que este era o segundo crossing deles, pelo menos. No primeiro, durante a festa do Comandante, eles provavelmente tiraram fotos ao lado de Pedro Alvares Cabral.
Antes do Brasil, estivemos na Ilha da Madeira e em Teneriffe. Lugarezinhos de atrativos naturais agradáveis e com bons precos para muamba. Quase uma Foz do Iguacu na Europa.
A medida em que nos aproximamos do equador, o clima melhorou e o navio parou de balancar. Chegamos em Recife, no Marco Zero, onde eu comi um camarão para o qual eu daria a mesma nota.
Logo depois estavamos na Bahia. Nao pude conhecer muito Salvador pq estava trabalhando. Tai duas palavras que eu nunca esperava usar na mesma frase.
A chegada no Rio foi um espetaculo a parte. Nao sei se muitos cariocas ja tiveram a oportunidade de contemplar a cidade pelo angulo de quem chega ao porto, mas vale a pena. Tirei algumas fotos, publicarei em seguida.
Os poucos gringos que ainda trabalham abordo ficaram maravilhados com nossa cidade maravilhosa. E nenhum foi assaltado! A situação no Brasil ta melhorando meeesmo.
Em Santos, começamos oficialmente a temporada brasileira. o que significou basicamente duas coisas: Os bebados começaram a cantarolar pra mim as musicas que eles queriam ouvir e não sabiam o nome. E, e' claro, rolou a primeira briga na boate. Entre cariocas e paulistas. O motivo foi mulher, futebol, recalque, sei lá. Coisa de bebado. E um briga de moça, prontamente apartada pelos seguranças, antes que alguém quebrasse a unha.
Aliás, só o Brasil poderia me proporcionar a bizarra situação da carteirada musical.
Explico:
Na boate, minha política é simples: toco qualquer música que o guest queira peça. Sem preconceitos ou pudores. Chegou, pediu, ouviu. Eu teria que me importar muito mais para me sentir artísticamente afrontado pelos "requests". Mas, como eu to tocando e andando, o cliente tem seeempre razão.
Ainda assim, tem gente que sente a necessidade de dar carteirada de "otoridade" para fazer sua solicitação valer. Algo do tipo: "Ei, DJ! Eu sou o Presidente Nacional dos Representantes de Venda de Pamonha no Atacado do Vale do Paraíba! Pô, toca um forró, aí!"
Claro, Vossa Excelência, claro...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Diario de Bordo. Farofa de formiga.

Como vocês, meus nobres leitores, sabem, fui transferido para o Vision of The Seas. O plano era simples: um mês de férias no Brasil, depois me encontraria com meu novo endereço no porto de Santos. Mas a Royal mudou de idéia. Tive uma semana de férias no Brasil, depois fui mandando de volta ao velho mundo, mais precisamente Portugal, para pegar o navio e fazer a travessia oceânica em direção ao... Rio de Janeiro. Pode ser por causa dos pasteizinhos de Belém que eu andei comendo, mas esse plano de viagem me soa meio lusitano.
Enfim, o dinheiro é deles, a milhagem é minha, não estou aqui pra reclamar. Manda quem pode, obedece quem tem juízo e cá estou, o pá, em Lisboa.
Uma cidadezinha agradável, cheia de conjuntinhos habitacionais que parecem uma Singapura européia. Comida muito agradável, hotel confortabilíssimo. E muuuito brasileiro. Meu companheiro de quarto é um curitibano indo para seu primeiro contrato como assistant waiter. Fico me perguntando se eu era tão ansioso e tenso assim quando comecei. O cara perguntou do plano de carreira até como faz pra passar roupa a bordo.
Respondi tudo o que pude (não sei como faz pra passar roupa a bordo. Só sei que tem um ferro na lavanderia, mas nunca usei) e procurei tranquilizar o cidadão, mas não tive muito sucesso. Não dá pra preparar ninguém pra essa vida que a gente leva.
Tem coisas na vida que carecem de comparação. E vida a bordo é como comer farofa de formiga. Tem quem goste, tem quem odeie. Mas todo mundo vai explicar o gosto da mesma forma: Tem gosto de formiga, oras!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Snapshots III


As pessoas me perguntam se o navio balança muito. Naaaummmm....

Snapshots II



Em Livorno, as lojas combatem a crise diversificando sua oferta. Mas tudo tem limite, eu acho...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Snapshots I



Em Roma, de frente para o Coliseu, encontramos o famoso Monumento To de Saco Cheio de Turista.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Diario de Bordo. O inverno chegou.

Um bom conhecedor dos mares sabe notar os indicadores de mudanca de estacao. Como a unica coisa que eu sei sobre mar e' que ele e' cheio d'agua, passei a utilizar meus poderes de observacao para desvendar os misterios da natureza maritima.
O primeiro sinal de que o tempo ia comecar a virar e' que o navio encheu de brasileiro. Indicativo de que a baixa temporada estava para comecar.
E que alegria ter os guests conterraneos a bordo! Povo europeu naum sabe fazer festa. E' preciso um grupo de brasileiros para deixar a seguranca tensa e os velhinhos ingleses indignados. E teve creu, teve mr. catra, teve ate Sidney Magal, para desespero de todos. Teve alemao que queria voltar a nado pra casa.
Outra prova da mudanca climatica foi o furacao no meio do itinerario. Ate onde eu sei, os brasileiros naum tiveram nada a ver com isso. Mas o sagaz Cap. Patrick desviou a rota e ficou tudo bem. A nao ser pelo fato de que passamos um dia inteiro enclausurados a bordo, sem poder sair para as areas ao ar livre. Durante esse periodo, o navio balancou mais que pelanca de personal trainer gordo. O resultado e' que metade dos passageiros passou a exibir um saudavel tom esverdeado na face. Nao podem reclamar que nao pegaram uma cor nas ferias.
E esta semana, finalmente, o frio tornou-se uma presenca concreta. E a mudanca foi selada com a chegada dos mexicanos, que agora invadem a nau.
E fico eu, na friaca, tocando salsa e sentindo falta dos brasileiros, do creu e do Sidney Magal. Tai uma frase que eu nunca pensei que diria.

P.S.: Achei esse video no youtube feito por um guest, bem antes de eu embarcar. Da pra ter uma boa ideia de como e' a casinha.

http://www.youtube.com/watch?v=jjHbGsFKmzU&feature=PlayList&p=2BD9CFAF5E591A16&playnext=1&playnext_from=PL&index=9

E para provar que isso de brasileiro provocar tumulto e' intriga da oposicao, tivemos um furacao no meio do itinerario.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Diario de Bordo: Gente que faz 2


E esse cidadaum com cara de balconista de Videolocadora eh o capitao do navio. Gente boa, toda vida e, ate onde sei, nao tem nenhum ponto na carteira.

Diario de Bordo: Gente que faz.




Hora de mostrar as caras dos coleguinhas de Voyager: ao lado, o cruise staff no topo do vesuvio. Rebecca (uk), TT (turquia), eu (brasilzilzil!), o chefe Gio (costa rica) e Cintia e Joao (Brasilzilzil!)










quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Alfa, Alfa, Alfa. Back Deck. Crew Bar.

Quem é da vida a bordo, sabe. Drill – ou simulação para treinamento, numa tradução aproximada – é parte da vida. Todo mundo tem uma função no navio, em uma situação de emergência. Eu, por exemplo, sou da equipe de lançamento de botes salva-vidas. Isso significa, na teoria, que eu sou um dos últimos a abandonar o navio. Na prática, em caso do navio precisar ser evacuado, isso significa que eu serei o cara em pânico, correndo em círculos e gritando feito uma moça.
Independente da sua eficácia – no meu caso, por exemplo - os treinamentos existem e, volta e meia, eles se tornam necessários. Especialmente nos casos alfa.
Existem basicamente 3 tipos de emergência a bordo, cada uma com seu código específico, para não assustar os passageiros. Alfa, por exemplo, é emergência médica.

No meio da noite, um silvo agudo. Segue em voz metalizada, num inglês com sotaque italiano a mensgem: Alfa, Alfa, Alfa Deck 3 Aft, starboard. Em outras palavras: emergência médica no terceiro andar, na popa, do lado direito. Pode não ser nada sério, como pode ser alguém morrendo. Já presenciei as duas coisas. A segunda é normalmente mais animada. Naquela noite, em específico era um infarto. A medida que o inverno se aproxima, a idade média dos passageiros vai ficando mais e mais elevada. E velhinho, você sabe: duas doses de whisky, uma bisteca sangrando, 3 ou 4 fox trotes na pista de dança, uma olhadela na bunda da assistente do mágico e pronto. É a Royal Caribbean matando o véio.

Lógico, a idéia não é essa, muito pelo contrário. Daí a animação do momento. É gente correndo com maca pra cima e pra baixo, balões de oxigênio pra todo canto, helicóptero pousando a bordo pra transportar o fulano moribundo. Uma festa.

E, é claro, crew também bate as botas a bordo. E não estou falando de fazer continência, veja bem. Felizmente, na maioria das vezes, os acidentes envolvendo os coleguinhas são mais risíveis do que sérios. Como a patinadora do gelo que se ralou toda em Barcelona quando caiu da bicicleta alugada. De certo ela achou o asfalto muito escorregadio.
Outra ocorrência comum pra Alfa é garçon bêbado. Principalmente brasileiro. Essa semana um tomou todas, foi dançar, caiu, abriu a testa. E lá vamos nós: Alfa, alfa, alfa, back deck, crew bar...

Patetices à parte, gente morre abordo. Em número suficiente para rolarem histórias de assombrações nos corredores do navio. Falam de um velhinho de andador falecido há uns cinco anos. No silencio da madrugada, dá pra ouvir as batidinhas metálicas do seu andador fantasmagórico nos arredores do teatro. Alguém já viu algo que seria o equivalente à nossa mulher de branco no banheiro. Vai ver que foi só Iemanjá que veio tirar uma água do joelho.

E antes que perguntem, desde que embarquei, não rolou nenhum óbito. Mas continuo vigilante e preparado para, no caso de uma emergência em que vidas dependam da minha prontidão e liderança, começar a correr em pânico e gritar feito uma moça.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Diário de Bordo. Cerveza do Dia: Santa Denise, boa de birra.


Estamos em Civitta Veccia, o porto para quem tem boca, e vai a Roma. O clima não é dos melhores. Venta, chove, mar de ressaca. Civitta Veccia é bem diferente de Nápoles, a primeira cidade italiana do itinerário. Trata-se de um município menor, mais arrumado. As ruas limpas, a arquitetura que se espera de cidades antigas do velho continente. Enfim, realmente parece com uma cidade da Europa. Já Nápoles é povoada de Hondas Biz e outras versões modernosas de lambretas. Um lugar sujo, caótico, quente, cheia de mendigos, engarrafamentos. Nápoles lembra, enfim, Botafogo. Talvez até por isso eu me sinta mais confortável lá.
Vou aproveitar o momento para fazer um pequeno adendo – muito respeitoso – sobre as mulheres italianas. Bonitas? Ecco. Não fosse a bizarra mania de usar maquiagem de atriz pornô dos anos 80 às nove da manhã. E os panos. Sabe aqueles cachecóis levinhos pra mulher? (echarpe, acho) Pode estar um calor sudanês – e geralmente está, nesta época do ano – que elas colocam aquela porcaria ao redor do pescoço. Com camisetinha regata, shortinho e botas de cowboy. E chapéu à Justin Timberlake. É o uniforme da periguete napolitana. Que só não é pior que o uniforme da polícia napolitana. Clássica camisa azul, quepe, botas de montaria e uma calça de veludo colante que dá a impressão que tem uma convenção do Village People na cidade.
Mas, voltando a Civitta Veccia:
Arrumadinha, uma praia simpática com parquinho de diversões e tudo. O único problema é que, na Itália, existe o desagradável hábito da “siesta”. Ou seja, o comércio fecha para o almoço. Um problema frustrante para turistas com horário para voltar ao navio. Era de se esperar que um país que pretende ter no turismo uma importante fonte de renda, já tivesse se livrado dessas “tradições”. Na boa, não importa o quanto um hábito esteja embutido nos usos e costumes de um povo, tem uma hora que é preciso parar com a palhaçada. Cuspir no chão, arrotar para elogiar a comida e fechar as lojas na cara dos clientes, francamente, não pode mais.
Posso estar parecendo intolerante, mas não é o caso. Restaurante fecha pro almoço na maledita cittá.
De qualquer maneira, consegui comprar num supermercado semi-aberto a nossa cerveza, ou melhor, birra do dia. (Meio constrangedor, às 11 da manhã, você entrar na fila do caixa com uma garrafa de cerveja, um abridor e um pacote de pilhas. A mocinha do caixa deve ter ficado com uma péssima impressão minha. Isso porque ela não me viu tomando a cerveja sozinha no banco da praça. Chamo essa experiência de “Alcoólatra por um Dia”.)
Apresento Santa Denise. Nada mais típico da região do que uma cerveja com nome de santo. Só falta agora lançarem a camisinha João Paulo II.
Santa Denise é uma cerveja saborosa, vem numa garrafa que parece de champagne e tem inacreditáveis 7,2% de teor alcoólico. Talvez daí venha o nome católico. Depois de tomar algumas Santa Denise, você também vai ver deus.

domingo, 13 de setembro de 2009

Diário de Bordo. Cerveja do Dia.

Resolvi começar uma nova sessão de utilidade pública neste humilde blog: A cerveja do dia.
Com intuito estritamente jornalístico, vou experimentar a cerveja típica de cada um dos portos em que o glorioso Voyager of the Seas parar.

Afinal, nada diz mais sobre os costumes de um país do que sua cerveja. Além do mais, degustar vinho é coisa de gente criada pela avó.

Barcelona - Estrella

A Estrella Damm Daura é uma cerveja especial que contém menos de 6 ppm de glúten. tem um teor alcoolico de 5,40% . Ou seja, umas duas latonas e vc tá beeeemmm....

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Diário de Bordo. The Disaster Channel.

Não temos espaço pra muita coisa na cabine. Beliche, um banheiro que é um milagre da nano-engenharia, um armário que parece peça de mobília de playmobil e, é claro, uma TV. E você deve se perguntar: como é a programação na TV de um navio. Bem, pode-se dizer que é uma atração à parte.
A TV a bordo pode ser dividida em 3 categorias: cinco ou seis canais de filmes. Na verdade, cada um deles passa apenas um título por semana, em looping, ad nauseum. Ultimamente, parece que estamos apreciando os festivais Tom Cruise e The Rock. Temos dois filmes de cada um desses astros simultaneamente no ar há uns 15 dias. No momento, eles exibem Rain Man e Missão Impossível 3 e dois filmes do Rock cujo nome eu não sei. Um é aquele da filha do jogador de futebol americano. O outro ele “interpreta” um xerife de uma cidadezinha do interior. As vezes, temos a oportunidade de assistir eventos multi-culturais, como Batman dublado em russo. O dublador do Coringa carrega na voz esganiçada. A voz do Batman em russo, parece o disco solo-acústico do João Gordo.
Há também um canal Friends, que só passa o seriado dos anos noventa, do começo ao fim. Com uma legenda que parece estar em grego. E está, segundo fontes confiáveis.
O segundo grupo de canais é gentilmente produzido e oferecido pelas grandes redes americanas. Trata-se de apanhados diários da programação que são especialmente compilados para os cruzeiros da Royal. Assim, temos ESPN, CNN, alguma coisa de seriados e talk shows da ABC e da NBC. Uma rala e requentada sopa de letrinhas com esportes, noticiários e humorísticos.
E o terceiro grupo, por sua vez, é o meu favorito. Os canais produzidos a bordo. Sim, temos uma produtora de TV que é pródiga em produzir os mais variados tipos de cretinice. Desde “documentários” sobre a vida a bordo para que os passageiros vejam o quanto nosso staff é feliz, até os canais “educativos”, que acredito sejam exclusivos para os funcionários. Programas com importantes dicas de saúde como “tomem banho todos os dias” ou “lavem as mãos antes de comer e depois de ir ao banheiro” são sempre reciclados. Mas, o meu favorito, é o Disaster Channel.
Eu juro que, munido de todo o meu cinismo, jamais teria pensado nessa pérola da psicologia reversa: para despertar a importância dos treinamentos e dos procedimentos de segurança, o Voyager tem um canal de TV que só exibe filme sobre desastres com navios. Naufrágios, incêndios, epidemias... Deu merda no seu cruzeiro? Sorria! Você está no Disaster Channel!
Esta semana estão exibindo o naufrágio de um navio de cruzeiro na costa da África do Sul. Bateu um temporal forte, o navio começou a fazer água e afundar. O capitão e os oficiais mais graduados ordenaram o abandono do navio, pegaram o primeiro bote salva-vidas, TIRARAM OS COBERTORES de velhinhos na fila para os botes e foram os primeiros a abandonar o navio. O trabalho de salvamento dos passageiros foi coordenado pelo guitarrista da banda do navio, o otário que ficou pra trás.
Ainda não sei se a lição a aprender com este filme é nunca confie no capitão ou fique amigo do músico da banda. Mas mal posso esperar a próxima estréia. Parece que um navio pegou fogo numa região infestada de tubarões.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Diario de bordo. Independencia ou porre.

Somos, ao todo, 35 brasileiros a bordo do Voyager of the Seas. Para se ter uma ideia, sao 150 indianos e mais de 200 filipinos. Ate os gregos estao presentes em maior numero. Somos uma minoria, diriam alguns. Mas uma minoria barulheta.
Hoje fizemos a festa da Independencia do Brasil no crew bar. Foi O evento. Teve capoeira, lambada, samba (e claro!) e ate quadrilha. Eu nao pude participar ativamente por causa do meu horario de trabalho na boate do navio. Achei que, quando finalmente chegasse ao bar, encontraria tudo as moscas, como acontece normalmente. Ta bom.
Cheguei no crew bar com Aquarela do Brasil versao tecno rolando a todo vapor. Tive a impressao de que todo mundo estava por la. O capitao do navio tinha acabado de sair e a diretora do cruzeiro tava na meiuca, numa tentativa costa0-riquenha de sambar.
Quando, por razoes de seguranca e bom-senso, resolveram desligar o som e acabar com a festa, ninguem foi embora. Todas as nacionalidades, devidamente alcoolizadas, ficaram para ver a roda dos brazucas pulando e cantando o hino nacional. Um momento e tanto.
Alguns tentaram acompanhar a cancao seguinte, a classica: " sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor", ainda que nao entendessem uma palavra de portugues. O salao todo decorado em verde e amarelo, com bandeiras, fitas, baloes, tudo feito do bolso dos 35 bravos conterraneos, com direito a caipiroska (nao existe cachaca no navio) e - e claro - todo mundo vestido com as cores patrias.
De certa forma, este post tem um tom de desagravo. Ainda que a patria seja esse Freddy Krueger corrupto travestido de Carmem Miranda, ha uma alegria e um orgulho na forca e na presenca de espirito do Brasil que nos faz unicos, distintos e indivisiveis. Com muito orgulho e muito amor.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Diário de Bordo. A Vida no U do Mundo.

É difícil explicar para quem não é do ramo como é viver nesta cidadela sobre as águas de onde escrevo. Voyager of the Seas é um dos maiores navios do mundo. São 14 andares, mais de 300 metros de comprimento, cerca de 5 mil pessoas a bordo. Leva mais ou menos um mês pra se acostumar a transitar pelas dependências sem se perder. Mas, para fins pedagógicos, pode-se dizer que o Voyager é uma imensa letra U, pelo menos do ponto de vista dos funcionários.
Como quase tudo que é de interesse dos guests fica no meio do navio, o backstage fica, normalmente, nas extremas popa e proa do navio. Minha cabine, por exemplo, fica na proa. E todos os restaurantes, sejam de funcionários ou não, ficam na popa. Isso significa que toda e qualquer refeição é precedida e seguida de uma caminhada de 300 metros, além de um lance de escadas de cinco andares. Ao final da primeira semana, você começa a se questionar quem tem prioridade, se suas pernas ou seu estômago. É preciso lembrar que as áreas para funcionários fumantes também ficam nas cercanias dos bares e refeitórios. Ou seja, seu cigarrinho também fica a mais ou menos 700 metros de distância. Haja pulmão, veja que ironia.
Não me lembro se já expliquei isso, mas existem basicamente 3 castas entre os funcionários no navio: os oficiais – das mais variadas “patentes” e naturezas –, o staff, do qual eu faço parte, juntamente com todo mundo que faz parte das atividades sociais e de diversão dos guests, e o crew, que é formado basicamente por todo mundo que é da área de serviços, bares e restaurantes. Então a maior parte das coisas destinadas para staff e oficiais é de boa qualidade. A comida, por exemplo, não posso reclamar. Temos variedade, quantidade e qualidade. Do café da manhã à sobremesa, chegando ao estranho cafezinho. Mas aí já é uma diferença cultural mesmo.
Infelizmente, não se pode dizer o mesmo do refeitório do crew. Como a maior parte dos crew members é de indianos e filipinos (inclusive os cozinheiros do refeitório), tudo que é servido por lá tem cara de comida indiana servida num trailer de praça em Xerém. Assim que vi a situação dos meus camaradas do bar, meu lado CUT acordou do sono de décadas. Sugeri que se organizassem, formassem um grupo de representantes, exigissem mudanças na qualidade da comida servida. A maioria responde dizendo que, quando vc trabalha 12, 14 horas por dia, não sobra muito ânimo para atividade sindical. E a comida? “Você se acostuma. Ou emagrece.”

Diário de Bordo. Mudança de Rota.

Diz-se, no navio, que quem trabalha no mar é porque está fugindo de algo em terra. Seja da fome, de desilusões amorosas, seja da mesmice de uma vida sem perspectivas. Eu nunca havia pensado em mim mesmo desta forma. Para mim, trabalhar em cruzeiro era apenas uma oportunidade de conhecer o mundo e ter um salário em dólar. Não pouca coisa para um ator/comediante/musico/professor que estava fadado a uma vida no cheque especial graças aos problemas destas carreiras no Brasil. Mas, no sábado, eu descobri do que eu estava fugindo.
Tivemos uma reunião do RH com todos os brasileiros a bordo do Voyager. Ao todo, umas trinta cabeças. Claro, a reunião acabou em festa. Mas não começou assim. O motivo da reunião era estabelecer quem iria ser transferido para outro navio, o Vision of the Seas. Este é o navio que faz temporada brasileira. Devido a legislação em vigor, cerca de 30% da tripulação de qualquer embarcação que explore a costa brasileira tem que ser formada por brasileiros. Até aí, nada demais. Acontece que, desde janeiro, todo brasileiro que trabalha embarcado é obrigado por lei a fazer um curso chamado STCW, onde aprende-se sobre sobrevivência no mar e normas de segurança. Como fazer massagem cardíaca, soltar um bote salva-vidas ou apagar incêndios. Esse curso é oferecido abordo em qualquer navio da Royal. O problema é que a marinha brasileira não aceita mais o curso dado dentro do navio. Agora, apenas as “escolas autorizadas” pelo governo brasileiro estão aptas a oferecer essa certificação. Detalhe, o curso custa 690 reais. Para qualquer brasileiro, fica clara a razão da preferência pelo certificado obtido em terra, não?
De qualquer forma, isso cria um problemão para a Royal. Já é difícil lotar um navio de gente disposta a trabalhar na temporada brasileira. Porque? Bem, imagine que a maior parte dos funcionários brasileiros é de garçons, barmen e similares. Gente que trabalha comissionada. E o passageiro brasileiro, por sua vez, além de não dar gorjeta, tem fama de sovina. Contam coisas como famílias de cinco pessoas dividindo uma coca-cola em lata. E gente pedindo gelo, que é de graça na maioria dos navios, pra esperar derreter e beber a água. Em outras palavras, temporada brasileira é o terror de qualquer crew member.
Assim sendo, perguntar quem quer fazer temporada brasileira é meio sem sentido. Pouquíssima gente quer. Então, a Royal simplesmente indica. E eu estava na lista.
E é assim que isso vai funcionar: no dia 3 de novembro eu vou ganhar um mês de férias. Em dezembro, eu embarco no Vision, no porto de Santos, para um novo contrato, até o fim de maio. Até o carnaval, fico zanzando portos desinteressantes do Brasil, a não ser pelo reveillon em Copacabana, beeeem longe da farofa na areia. Mas beeeem no caminho das oferendas para Iemanjá.
Depois, vamos para Egito, Grécia e outras paragens. Mas vou amargar 3 meses de forró, axé, samba e funk. Mas vou poder voltar a fazer Stand Up em português. Espanhóis nem sabem o que é Stand Up e eu só poderia fazer opening act em inglês quando chegássemos aos EUA. Entre mortos e feridos, salvam-se alguns.
O fato é que a opinião geral dos oficiais da Royal sobre o Brasil não é das melhores. Fala-se que nosso país é simplesmente o pior do mundo para a companhia. A corrupção é assustadora. Não se consegue entrar em porto algum sem dar um whisky para o funcionário público encarregado de vistoria. E essas exigências de certificação são únicas no mundo. Nenhum outro país coloca tantos obstáculos para o trabalho dos seus próprios cidadãos.
E, graças à corrupção e à politicagem brasileira, não será dessa vez que conhecerei o Caribe, México, Texas e tantos outros lugares. Daí eu descobri do que fugia. Deste sentimento de impotência diante dos círculos viciosos da minha pátria. Eu vim para cá buscando a chance de uma carreira sem apadrinhamentos, sem “jeitinhos”, onde o bom trabalho e o profissionalismo fossem a derradeira fonte de recompensa. Mas não é tão fácil fugir do Brasil. Como um vilão de filmes de terror, ele sempre volta para puxar seu pé quando você acha que está a salvo. Brasil é um Freddy Krueger vestido de baiana.
Claro que, da tal reunião, saiu a idéia de uma festa para comemorar o Sete de Setembro.
Vai ter quadrilha, capoeira, lambada, samba e funk. O RH até liberou umas garrafas de vodka para a Caipiroska. Felizmente não vou poder participar, pq no horário estou trabalhando no Vault. Ótimo. Queriam que eu fosse o padre na quadrilha. Dessa eu escapei. Rodrigo 1 x Freddy Krueger Miranda 1.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Diario de Bordo. E o vento levou: Marselha.

Na quinta saimos de VilleFranche com destino a Marselha, onde acordariamos no dia seguinte. Durante a noite, na boate, os guests dancavam de um lado para o outro. Curiosamente, sempre o mesmo lado, todos juntos. Pela primeira vez desde que cheguei, o navio jogou como se estivesse em Punta Del Leste. Ventos de 65 Km fizeram impossivel andar em linha reta dentro do Voyager.
No dia seguinte, a ventania continuava. Fui tomar meu cafe na popa, admirando o porto, como sempre faco. So que o porto nao apareceu. Devido as condicoes do tempo, o capitao resolveu nao parar em Marselha. Voltamos direto para Barcelona. E neste dia nauseante de ventos gelados, recebi uma noticia que mudaria completamente o rumo da minha aventura maritima.
A seguir, cenas dos pro'ximos capitulos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Diario de Bordo. A procura de Piboo.

Ser DJ em navio nao e facil. Quer dizer, e muito facil, tecnicamente falando. Ninguem ta nem ai para suas habilidades. As vezes eu me sinto como um Ipod ambulante.
O hospede chega na boate, toma todas e comeca a pedir barbaridades na pista de danca. A politica do navio e simples: o guest sempre tem razao. Entao, vc toca o pedido e ponto.
Passei minha primeira semana sendo assombrado por um pedido em especial. Os espanhois vinham ate a janela da minha cabine e gritavam: Toca piboo!!!
E eu nao fazia ideia do que se tratava.
Perguntei para meu chefe, para a chefa dele, para colegas de todas as nacionalidades e oficios. Ninguem nunca tinha ouvido falar de piboo. Passei preciosos momentos na internet pesquisando. Nadegas.
Um belo dia, um dos guests se dispos a me emprestar seu mp3 player com a cancao do tal do piboo para que eu pudesse copiar.
Ei-la: I know you want me. O cantor, Pit Bull.

domingo, 23 de agosto de 2009

Diario de Bordo. O dia em que mataram o Amem.

Meus dois chefes me chamaram para uma reuniao. Queriam que eu adotasse um nome artistico para apresentar no Vault, a boate onboard onde eu passo minhas noites como DJ.
Eu respondi, e claro, que tinha um nome artistico. Amem.
Eles se entreolharam, confusos.
"Tipo, como na igreja?"
Isso, tipo na igreja. Houve um momento de silencio. Ai eles disseram que Amem nao podia ser.
Os hospedes mais religiosos poderiam se ofender. Nao, na Royal Caribbean, eu nao posso ser Amem.
Ai, comecaram a tentar me re-batizar. Adivinha?
"Ladies and Gentlemen! Give it up to our DJ from Brazil, DJ Rio!"
Ta. Pode rir, vai.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Diario de Bordo. Fim do dia 3.

Nada do que eu planejei fazer funcionou. Nao deu tempo de escrever antes e so vir postar. Meu chefe direto, um louco chamado Giovani, me levou junto com a namorada dele para conhecer um pedacinho de Napoles. Um calor de Bangu, numa cidadezinha fofa.
Tambem foi dia de comprar uniforme. Sim, comprar uniforme. Ele e descontado do pagamento. Entao, sou o feliz proprietario de um smoking, um terno, algumas bermudas caqui e umas camisetas polo que parecem as dos atendentes do burger king. Parece tanto que esse e o nome que vem no formulario de requisicao!
A boate continua funcionando as mil maravilhas.
O lugar, chamado "The Vault", e todo Hi-Tec. Vc coloca a mao numa placa e a porta abre, tipo nave espacial. Dois andares, uma luz muito show, tudo nos trinques. O ruim e que, neste itinerario, tem muito espanhol. Ai, a musica que rola horrores e rumba, salsa e o reaggaton, que e o funk deles.
Alias, hoje eu fiz uma experiencia. Resolvi tirar a limpo a "fama internacional" do DJ Malboro.
Toquei uns funks. Sabe a cena do "De Volta para o Futuro" em que o Michael J Fox se empolga na guitarra e todo mundo se assusta? A mesma reacao.
Em compensacao, achei por aqui uma versao do "Rap das Armas" em ritmo caribenho, mas com letra em portugues, original. Um barato ver as madama e os velhinhos cantando "Paraparaparaparaparapapa" sem ter ideia do que se trata.
Amanha toco, alem da boate a partir das 11, em mais quatro (sim, quatro!) eventos dentro do navio. Haja Macarena.

Diario de Bordo. Dia 3.

Acho que fiquei uns quinze minutos parado diante da tela branca do blog antes de comecar a digitar.
O que foi um mau negocio. A internet no navio custa 6 centavos de dolar por minuto.
Hoje a noite pretendo escrever mais detalhadamente sobre os ultimos dois dias. Muito a dizer, pouco tempo. Agora, pela primeira vez, vou descer no porto para dar uma olhada em Napoles. O calor e simplesmente Cuiabano.
Quando acabar meu shift na boate, la pelas quatro da manha, venho contar mais. Podem esperar.
Ate porque, pra vcs, vai ser so' meia noite.

sábado, 15 de agosto de 2009

Diário de Bordo. Dia 1.

Cheguei em Madrid as nove da manhã. Deles. Durmi duas horas durante o vôo, e tive a sorte de estar sozinho na minha fileira de poltronas. Mas acordei doido de fuso horário. Gostaria de poder contar mais sobre Madrid, mas não vi mais do que o aeroporto. Enorme, cheio de trenzinhos levando passageiros de caras perdidas para cima e para baixo, num shopping center de Itu. Diferente, só os fumódromos dentro da sala de embarque. Uma espécie de curral do câncer para os fracos demais para vencer os próprios vícios.
Depois do terceiro cigarro, peguei o avião para Barcelona. Uma hora depois, estava esperando o ônibus para o hotel, numa tarde escaldante de sábado. Era fácil me localizar. Eu era o único cara de todo o aeroporto segurando duas malas enormes e uma jaqueta de couro. Sabe como é, casaco é algo que você veste quando sua mãe tem frio.
O caso é que meu espanhol é uma merda. Eu entendo o que me é dito, mas ninguém me entende. Resultado: perguntei pro motorista do ônibus se ele me levaria ao referido hotel. “si!”. Pero no. Era o busão errado.
Vamos ver a coisa pelo lado positivo. O passeio de busão errado me deu a oportunidade de ver Barcelona de perto. Uma cidade linda e limpa. Quase civilizada. O mesmo motorista que me deu informação errada deixou uma velhinha de cadeira de rodas esperando no ponto e saiu fora, sob protestos dos outros passageiros: “Que malo! Esto no puede!”
Quando finalmente eu desci no hotel errado, do outro lado da cidade, fui informado que o meu hotel era do lado do aeroporto. E, como o aeroporto é afastado da cidade, seria melhor pegar um táxi. Morri em 15 euros mas aprendi um bocado sobre a zona franca de Barcelona, já que o taxista não calava a boca.
Chegando ao hotel, pequeno, mas arrumadinho, percebi que se tratava, na verdade, de uma espécie de entreposto para passageiros e trabalhadores de cias de cruzeiro. Todo mundo no hotelzinho ou vai trabalhar ou passear em navios. Ao chegar no quarto, conheci meu primeiro roommate, um indiano de nome complicado que, de agora em diante, chamarei de Apu.
Apu tem uma filhinha de dois anos e trabalha em cruzeiros há oito. Bem falante, contou várias experiências oceânicas. Disse que trabalha no cassino, fazendo manutenção de caça-níqueis e que gosta de conversar para não pensar na filhinha e sentir “homesick”.
Se ele não parar de falar, acho que também ficarei, rapidinho. Brincadeira. Apu é gente boa. E sim, ele fala igualzinho ao personagem dos Simpsons.
Amanhã, oito e meia, é hora de conhecer Sua Excelência, Voyager of the Seas.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Diário de Bordo. Dia Zero.

Senhoras e senhores navegantes, a partir de hoje, neste espaço, publico minhas memórias, experiências, fotos e vídeos da minha primeira aventura oceânico. A bordo do Voyager of the Seas, um dos maiores navios de cruzeiro do mundo, passarei os próximos seis meses navegando pelo mediterrâneo.
Para os queridos amigos, familiares que visitam este blog, ele serve para levar notícias e encurtar distâncias.
Para os desconhecidos que tropeçaram nesta página, sejam igualmente bem-vindos.
Hoje o dia será infernalmente corrido, portanto vou reservar posts mais detalhados para amanhã.
As 19:30 embarco rumo a Barcelona, onde minha nova casa me aguarda.
Programação do dia, arrumar mala, cortar cabelo, pegar documentos do visto na agência.
Por alguma razão, me recomendaram comprar cadeados. hum.