segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Diario de Bordo. E o vento levou: Marselha.

Na quinta saimos de VilleFranche com destino a Marselha, onde acordariamos no dia seguinte. Durante a noite, na boate, os guests dancavam de um lado para o outro. Curiosamente, sempre o mesmo lado, todos juntos. Pela primeira vez desde que cheguei, o navio jogou como se estivesse em Punta Del Leste. Ventos de 65 Km fizeram impossivel andar em linha reta dentro do Voyager.
No dia seguinte, a ventania continuava. Fui tomar meu cafe na popa, admirando o porto, como sempre faco. So que o porto nao apareceu. Devido as condicoes do tempo, o capitao resolveu nao parar em Marselha. Voltamos direto para Barcelona. E neste dia nauseante de ventos gelados, recebi uma noticia que mudaria completamente o rumo da minha aventura maritima.
A seguir, cenas dos pro'ximos capitulos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Diario de Bordo. A procura de Piboo.

Ser DJ em navio nao e facil. Quer dizer, e muito facil, tecnicamente falando. Ninguem ta nem ai para suas habilidades. As vezes eu me sinto como um Ipod ambulante.
O hospede chega na boate, toma todas e comeca a pedir barbaridades na pista de danca. A politica do navio e simples: o guest sempre tem razao. Entao, vc toca o pedido e ponto.
Passei minha primeira semana sendo assombrado por um pedido em especial. Os espanhois vinham ate a janela da minha cabine e gritavam: Toca piboo!!!
E eu nao fazia ideia do que se tratava.
Perguntei para meu chefe, para a chefa dele, para colegas de todas as nacionalidades e oficios. Ninguem nunca tinha ouvido falar de piboo. Passei preciosos momentos na internet pesquisando. Nadegas.
Um belo dia, um dos guests se dispos a me emprestar seu mp3 player com a cancao do tal do piboo para que eu pudesse copiar.
Ei-la: I know you want me. O cantor, Pit Bull.

domingo, 23 de agosto de 2009

Diario de Bordo. O dia em que mataram o Amem.

Meus dois chefes me chamaram para uma reuniao. Queriam que eu adotasse um nome artistico para apresentar no Vault, a boate onboard onde eu passo minhas noites como DJ.
Eu respondi, e claro, que tinha um nome artistico. Amem.
Eles se entreolharam, confusos.
"Tipo, como na igreja?"
Isso, tipo na igreja. Houve um momento de silencio. Ai eles disseram que Amem nao podia ser.
Os hospedes mais religiosos poderiam se ofender. Nao, na Royal Caribbean, eu nao posso ser Amem.
Ai, comecaram a tentar me re-batizar. Adivinha?
"Ladies and Gentlemen! Give it up to our DJ from Brazil, DJ Rio!"
Ta. Pode rir, vai.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Diario de Bordo. Fim do dia 3.

Nada do que eu planejei fazer funcionou. Nao deu tempo de escrever antes e so vir postar. Meu chefe direto, um louco chamado Giovani, me levou junto com a namorada dele para conhecer um pedacinho de Napoles. Um calor de Bangu, numa cidadezinha fofa.
Tambem foi dia de comprar uniforme. Sim, comprar uniforme. Ele e descontado do pagamento. Entao, sou o feliz proprietario de um smoking, um terno, algumas bermudas caqui e umas camisetas polo que parecem as dos atendentes do burger king. Parece tanto que esse e o nome que vem no formulario de requisicao!
A boate continua funcionando as mil maravilhas.
O lugar, chamado "The Vault", e todo Hi-Tec. Vc coloca a mao numa placa e a porta abre, tipo nave espacial. Dois andares, uma luz muito show, tudo nos trinques. O ruim e que, neste itinerario, tem muito espanhol. Ai, a musica que rola horrores e rumba, salsa e o reaggaton, que e o funk deles.
Alias, hoje eu fiz uma experiencia. Resolvi tirar a limpo a "fama internacional" do DJ Malboro.
Toquei uns funks. Sabe a cena do "De Volta para o Futuro" em que o Michael J Fox se empolga na guitarra e todo mundo se assusta? A mesma reacao.
Em compensacao, achei por aqui uma versao do "Rap das Armas" em ritmo caribenho, mas com letra em portugues, original. Um barato ver as madama e os velhinhos cantando "Paraparaparaparaparapapa" sem ter ideia do que se trata.
Amanha toco, alem da boate a partir das 11, em mais quatro (sim, quatro!) eventos dentro do navio. Haja Macarena.

Diario de Bordo. Dia 3.

Acho que fiquei uns quinze minutos parado diante da tela branca do blog antes de comecar a digitar.
O que foi um mau negocio. A internet no navio custa 6 centavos de dolar por minuto.
Hoje a noite pretendo escrever mais detalhadamente sobre os ultimos dois dias. Muito a dizer, pouco tempo. Agora, pela primeira vez, vou descer no porto para dar uma olhada em Napoles. O calor e simplesmente Cuiabano.
Quando acabar meu shift na boate, la pelas quatro da manha, venho contar mais. Podem esperar.
Ate porque, pra vcs, vai ser so' meia noite.

sábado, 15 de agosto de 2009

Diário de Bordo. Dia 1.

Cheguei em Madrid as nove da manhã. Deles. Durmi duas horas durante o vôo, e tive a sorte de estar sozinho na minha fileira de poltronas. Mas acordei doido de fuso horário. Gostaria de poder contar mais sobre Madrid, mas não vi mais do que o aeroporto. Enorme, cheio de trenzinhos levando passageiros de caras perdidas para cima e para baixo, num shopping center de Itu. Diferente, só os fumódromos dentro da sala de embarque. Uma espécie de curral do câncer para os fracos demais para vencer os próprios vícios.
Depois do terceiro cigarro, peguei o avião para Barcelona. Uma hora depois, estava esperando o ônibus para o hotel, numa tarde escaldante de sábado. Era fácil me localizar. Eu era o único cara de todo o aeroporto segurando duas malas enormes e uma jaqueta de couro. Sabe como é, casaco é algo que você veste quando sua mãe tem frio.
O caso é que meu espanhol é uma merda. Eu entendo o que me é dito, mas ninguém me entende. Resultado: perguntei pro motorista do ônibus se ele me levaria ao referido hotel. “si!”. Pero no. Era o busão errado.
Vamos ver a coisa pelo lado positivo. O passeio de busão errado me deu a oportunidade de ver Barcelona de perto. Uma cidade linda e limpa. Quase civilizada. O mesmo motorista que me deu informação errada deixou uma velhinha de cadeira de rodas esperando no ponto e saiu fora, sob protestos dos outros passageiros: “Que malo! Esto no puede!”
Quando finalmente eu desci no hotel errado, do outro lado da cidade, fui informado que o meu hotel era do lado do aeroporto. E, como o aeroporto é afastado da cidade, seria melhor pegar um táxi. Morri em 15 euros mas aprendi um bocado sobre a zona franca de Barcelona, já que o taxista não calava a boca.
Chegando ao hotel, pequeno, mas arrumadinho, percebi que se tratava, na verdade, de uma espécie de entreposto para passageiros e trabalhadores de cias de cruzeiro. Todo mundo no hotelzinho ou vai trabalhar ou passear em navios. Ao chegar no quarto, conheci meu primeiro roommate, um indiano de nome complicado que, de agora em diante, chamarei de Apu.
Apu tem uma filhinha de dois anos e trabalha em cruzeiros há oito. Bem falante, contou várias experiências oceânicas. Disse que trabalha no cassino, fazendo manutenção de caça-níqueis e que gosta de conversar para não pensar na filhinha e sentir “homesick”.
Se ele não parar de falar, acho que também ficarei, rapidinho. Brincadeira. Apu é gente boa. E sim, ele fala igualzinho ao personagem dos Simpsons.
Amanhã, oito e meia, é hora de conhecer Sua Excelência, Voyager of the Seas.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Diário de Bordo. Dia Zero.

Senhoras e senhores navegantes, a partir de hoje, neste espaço, publico minhas memórias, experiências, fotos e vídeos da minha primeira aventura oceânico. A bordo do Voyager of the Seas, um dos maiores navios de cruzeiro do mundo, passarei os próximos seis meses navegando pelo mediterrâneo.
Para os queridos amigos, familiares que visitam este blog, ele serve para levar notícias e encurtar distâncias.
Para os desconhecidos que tropeçaram nesta página, sejam igualmente bem-vindos.
Hoje o dia será infernalmente corrido, portanto vou reservar posts mais detalhados para amanhã.
As 19:30 embarco rumo a Barcelona, onde minha nova casa me aguarda.
Programação do dia, arrumar mala, cortar cabelo, pegar documentos do visto na agência.
Por alguma razão, me recomendaram comprar cadeados. hum.