quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Foto do Dia. Love me tender.


Quando visitamos portos mais bucolicos como Buzios, Ilha Grande e Ilha Bela, não é possível atracar o navio ao porto. Então, para levar os passageiros para seus passeios em terra utilizamos os tenderboats, esses barquinhos que parecem vans oceânicas. Uma das minhas funções a bordo é assegurar que nenhum hóspede perca o último tender de volta ao navio. Em outras palavras, eu circulo por Búzios gritando "Vision of the Seas! Último Tender para o Vision of the seas!"
Isso me valeu o apelido de "o louco do cais de búzios".

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Foto do Dia. Uma noite de trabalho.


Eis a noite na Viking Crown - a boate do navio e, portanto, meu escritório - sob o ponto de vista do DJ (este que vos escreve). A foto saiu meio sem foco mas, a essa altura da balada, eu já estava enxergando tudo sem foco, mesmo (felicidade é poder beber no emprego). Assim sendo, é um enfoque bem realista do meu dia-a-dia (ou noite-a-noite, como preferir).

Diário de Bordo. Loompa-Loompas.

Nunca fui muito bom em geografia. Durante boa parte da minha vida, ignorei a existência de diversas nações. Claro, a vida no navio muda isso tudo. Tomei conhecimento, por exemplo, da existência das Filipinas. Quer dizer, da existência de Filipinos. Continuo duvidando da existência do país em si, uma vez que toda sua população parece estar a bordo dos navios de cruzeiro ao redor do mundo. Trata-se, ao meu ver, de uma nação sem território, ou com território móvel, como preferir.
Pois a maior parte dos navios de cruzeiro do mundo tem sua tripulação formada principalmente por filipinos e indianos. Eles falam um inglês muito peculiar, usam um macacão azul de uniforme, normalmente trabalham em cargos de limpeza e manutenção técnica do navio. A grande parte não tem permissão para circular entre os hóspedes, a menos que durante o exercício de suas atividades.
Assim sendo, muitos hóspedes não se dão conta que essa classe operária existe. E quando os encontram, tem dificuldade de diferenciá-los por sua origem. São todos baixinhos, morenos, usam bigodinhos estranhos e macacão azul. Lembram o filme "A Fantástica Fábrica de Chocolate", onde homenzinhos trabalham nos bastidores de uma misteriosa empresa fazendo os melhores chocolates do mundo. Eles também não aparecem em público e também são provenientes de países exóticos.
Por essas e outras, quando circulo pelas catacumbas do navio e vejo um dos nossos loompa-loompas carregando bagagens ou reparando encanamentos danificados, não consigo deixar de cantarolar a famosa canção do clássico do cinema: Dumpa, dumpa, dumpa dee-dooo...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Diario de Bordo. Do mar, o Rio.

No meu album do Orkut, imagens interessantes do Rio de Janeiro, do ponto de vista dos navegantes.

http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=13561502833632249489&aid=1260614318

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Diário de Bordo. Perguntas que não querem calar.

A fim de cada cruzeiro vão-se os passageiros mas as perguntas cretinas permanecem, para que os próximos passageiros as repitam com aquela cara de quem teve um insight de curiosidade brilhante. Aqui vão algumas, mas é bem provável que esta se torne uma nova sessão do blog, tamanha a sandice dos nossos honrados hóspedes. (não estranhem a falta de pontos de interrogação. não consegui configurar o maldito teclado descentemente. O que estiver entre aspas deve ser lido como pergunta. Em seguida, vão as respostas que eu gostaria de poder dar)

1 - "O navio produz sua própria energia elétrica"
R - Claro que não. Durante toda a viagem, o navio fica ligado na tomada do porto de Santos. Um Filipino fica na popa dando fio e tomando conta para que o cabo não fique muito esticado.

2 - "A água do vaso sanitário é doce ou salgada"
R - Meu senhor, a marinha brasileira exige que a água do vaso tenha gosto de suco de kiwi. Para sua segurança, eu sugiro que o senhor faça o teste todos os dias pela manhã.

3 - "Esta escada é pra subir ou pra descer"
R - Nem pra subir, nem pra descer. Esta escada foi especialmente projetada para corrigir as diferenças de altura entre casais. Se o seu marido for muito mais baixo que a senhora, basta posicioná-lo dois degraus acima para que vocês se sintam do mesmo tamanho.

4 - "Por que a boate tem esse cheiro de cigarro"
R - Os especialistas da Companhia ainda estão estudando esse caso e há divergências. Mas a corrente mais aceita acredita que é devido ao fato de que as pessoas fumam lá dentro.

5 - "Os funcionários do navio dormem em cabines"
R - Não. Terminado o dia de trabalho, nos dirigimos para a popa do navio e esperamos pela condução que nos levará de volta aos nossos lares. A linha 567 - Mediterrâneo - Caxias serve pra mim, se não tiver muito trânsito.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Diario de Bordo. A Viagem do Descobrimento.

Passei um tempo sem escrever por varios motivos. Primeiro, o novo navio nao dispoe das mesmas regalias para crew members que o Voyager oferecia. O Vision of the Seas e´ mais antigo, e nem todas as tecnologias sao de facil acesso. Por exemplo, ao chegar abordo, eu recebi um Bip. Sim, um pager. Para quando meu chefe precisar me localizar. Eu nao via um bip tinha uns 15 anos. Se esse navio fosse um pouco mais antigo, acho que eles mandavam a Lessie me procurar quando precisassem de mim.
Pois muito bem, a travessia de Portugal ao Brasil foi interessante. Na medida que e' interessante ficar 14 dias dentro de um asilo que balanca. A me'dia de idade dos guests dava a entender que este era o segundo crossing deles, pelo menos. No primeiro, durante a festa do Comandante, eles provavelmente tiraram fotos ao lado de Pedro Alvares Cabral.
Antes do Brasil, estivemos na Ilha da Madeira e em Teneriffe. Lugarezinhos de atrativos naturais agradáveis e com bons precos para muamba. Quase uma Foz do Iguacu na Europa.
A medida em que nos aproximamos do equador, o clima melhorou e o navio parou de balancar. Chegamos em Recife, no Marco Zero, onde eu comi um camarão para o qual eu daria a mesma nota.
Logo depois estavamos na Bahia. Nao pude conhecer muito Salvador pq estava trabalhando. Tai duas palavras que eu nunca esperava usar na mesma frase.
A chegada no Rio foi um espetaculo a parte. Nao sei se muitos cariocas ja tiveram a oportunidade de contemplar a cidade pelo angulo de quem chega ao porto, mas vale a pena. Tirei algumas fotos, publicarei em seguida.
Os poucos gringos que ainda trabalham abordo ficaram maravilhados com nossa cidade maravilhosa. E nenhum foi assaltado! A situação no Brasil ta melhorando meeesmo.
Em Santos, começamos oficialmente a temporada brasileira. o que significou basicamente duas coisas: Os bebados começaram a cantarolar pra mim as musicas que eles queriam ouvir e não sabiam o nome. E, e' claro, rolou a primeira briga na boate. Entre cariocas e paulistas. O motivo foi mulher, futebol, recalque, sei lá. Coisa de bebado. E um briga de moça, prontamente apartada pelos seguranças, antes que alguém quebrasse a unha.
Aliás, só o Brasil poderia me proporcionar a bizarra situação da carteirada musical.
Explico:
Na boate, minha política é simples: toco qualquer música que o guest queira peça. Sem preconceitos ou pudores. Chegou, pediu, ouviu. Eu teria que me importar muito mais para me sentir artísticamente afrontado pelos "requests". Mas, como eu to tocando e andando, o cliente tem seeempre razão.
Ainda assim, tem gente que sente a necessidade de dar carteirada de "otoridade" para fazer sua solicitação valer. Algo do tipo: "Ei, DJ! Eu sou o Presidente Nacional dos Representantes de Venda de Pamonha no Atacado do Vale do Paraíba! Pô, toca um forró, aí!"
Claro, Vossa Excelência, claro...