segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Diário de Bordo. Um vídeo vale por mil palavras.

Reconheço hoje, passados alguns meses do meu retorno, que meu capítulo de encerramento da minha aventura marítima foi um tanto depressivo. Acho que era pq eu realmente estava deprimido. Agradeço aos amigos que sentiram isso e se preocuparam.
De qualquer forma, me lembrei de um vídeo que eu assisti quando estava me preparando para o primeiro contrato. Na época eu só achei o vídeo divertido e inspirador.
Hoje em dia acho a perfeita metáfora para a vida a bordo. Você, solto no mundo, cercado de pessoas. Aparentemente se divertindo, aparentemente se aventurando. Mas, no fundo, fazendo as mesmas coisas em diferentes posições do google earth.
Com vcs, Where the Hell is Matt.
(copie e cole no seu navegador)

http://www.youtube.com/watch?v=zlfKdbWwruY

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Diário de Bordo. Valeu a pena ser pescador de ilusões?

Escrevo a vocês um mês depois de ter encerrado meu contrato. A razão da distância foi ter alguma... distância emocional pra chegar a conclusões que fizessem sentido. Não sei se vou conseguir, mas vamos lá.
Primeiro, a decisão: não vou fazer outro contrato. Ainda que deva reconhecer que me ofereceram um excelente navio – o Navigator of the Seas – num excelente roteiro – Mediterrâneo ocidental e oriental. Mas decidi não aceitar. Eis o porquê.
Muitas perguntas me foram feitas desde que cheguei. A mais constrangedora foi: Valeu a pena? E eu realmente não sei responder isso. Até porque eu não sei o que é valer a pena.
Vale a pena quando você atinge seus objetivos ou quando o processo em si é prazeiroso?
Conheci lugares que não teria conhecido não fosse pelo trabalho em cruzeiros. Muitos maravilhosos. Depois de um certo tempo, já não sabia em que parte do mundo estava. E não me importava com isso. Conheci pessoas de todo o planeta, de algumas delas, jamais me esquecerei. Mas a maior parte do tempo me sentia sozinho.
Tive a oportunidade de aperfeiçoar meu trabalho artístico, tanto no humorismo quanto como DJ em níveis que me custariam anos de prática em terra firme. Ainda assim, fora dos mares, sinto que terei que recomeçar minha carreira da estaca zero. Ficar nove meses longe do mercado é arriscado.
Talvez, se eu tivesse 23 e não 33 anos, eu encararia mais um ou dois contratos. Mas o navio me custou muito. Perdi saúde, boas oportunidades de trabalho no continente, um grande amor. Sinto como se tivesse envelhecido uns 15 anos.
Mas isso não quer dizer que eu me arrependa. Acho que era algo que eu precisava viver. Voltei uma pessoa diferente. Pra pior e pra melhor.
Agradeço a todos que visitaram esse blog. Em boa parte do tempo, pensar nas bobagens que eu contaria para vocês foi um alívio e tanto. Lamento muito se eu não posso responder a pergunta que a maioria dos leitores tenta esclarecer quando cai por aqui depois de uma pesquisa no Google. Vale a pena trabalhar em navio?
Depende do que você quer, depende o que você busca, depende quem você é. Mas saiba que você vai descobrir que aquilo que você quer, busca ou é geralmente muda durante a jornada. É uma boa aposta para quem não tem nada a perder. Para todos os outros, uma loteria.
Em tempo: pretendo continuar narrando minhas desventuras, ainda que entenda que o apelo de uma vida em terra firme não seja tão forte. Os que quiserem continuar me acompanhando, serão mais que bem-vindos. WWW.meiapalabas.blogspot.com

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Diario de Bordo. IamSTERDAM.

Amsterdam era um dos portos que eu tinha mais vontade de conhecer. Desembarquei e aluguei uma bicicleta, sem duvida o melhor meio de transporte para explorar a cidade. Custa uns 15 euros, mas vc tem que deixar um deposito de 70 para garantir a devolucao, ou seu passaporte. Logico, o passaporte ficou na lojinha.
A cidade tem aquela fofice que voce espera das antigas edificacoes europeias, entremeada por quatro ou cinco canais que as populacao usa como se fossem trilhos de trem. Ou seja, tem gente que vai pro trabalho de barco, mas a grande maioria vai de bicicleta. E e' muita bicicleta. Chega a ser dificil estacionar. Tive que andar algumas quadras pra achar um poste disponivel pra minha correntinha.
Tem tres coisas que eu vi aos montes em Amsterdam. Bicicletas, folhas de maconha e pintos. Bicicletas estava por todo lado, folhas de maconha eram o tema de 4 em cada cinco camisetas e caralhos por todo lado.
A questao e' que Amsterdam e' mundialmente famosa por ser liberal. Com a liberacao da prostituicao e das drogas, o comercio da cidade dividiu-se basicamente entre lojas de souvenir (camisetas com estampas de maconha), sex shop (vibradores dos mais variados tamanhos expostos com toda tranquilidade nas vitrines) e cafeterias (onde ninguem toma cafe e todo mundo fuma maconha).
E e' a tranquilidade com que os moradores encaram a coisa toda que fazem minha formacao opressora catolica gelar. No distrito da luz vermelha, onde as prostitutas ficam se exibindo na vitrine como se fossem manequins da C&A, as familias passeiam com suas criancinhas, que dao tchau pras prostitutas de top less nas vitrines, que mandam beijinhos de volta, e todo mundo muito tranquilo. Eu nao estava muito, no entanto. Era uma manha de segunda-feira. Mesmo para os padroes europeus, era dificil manter a qualidade da mercadoria exposta nas vitrines. Que medo.
Minha primeira parada foi o Museu de Anne Frank, que era um lugar especial pra mim. Eu tinha uma historia pessoal com o livro, fiz parte de uma montagem teatral sobre o assunto. Enfim, eu tinha expectativas. Mas, assim que vc chega no local, o choque. A casa de Anne Frank virou uma especie de Livraria da Travessa. Com direito a cafeteria no segundo andar (!!!!!).
Por determinacao do pai de Anne, o meu caro sr. Otto Frank, os comodos da casa permaneceram sem mobilia. Entao, vc acaba fazendo um passeio por quartos vazios pintados de preto com fotos nas paredes. Tipo uma exposicao do Sebastiao Salgado. O unico utensilio que permaneceu foi a privada de Anne Frank, toda de porcelana decoradinha de motivos florais. Muito emocionante.
Bom, meus amigos sabem que eu sou contra as drogas. Bem, nao contra as drogas, exatamente. Contra o financiamento do crime organizado. Pode soar radical, mas acho que, no Brasil, quem fuma maconha nao pode reclamar de bala perdida. Mas estamos numa outra realidade, numa sociedade onde a tolerancia e a civilidade convivem com as taras secretas do ser humano em bons termos. Entao, fui a cafeteria.
Escolhi uma pela qualidade que me e' favorita: o senso de humor. Na vitrine do cafe, uma mensagem espirituosa: "Minors no entrance and no fucking around". Acima do balcao, outro aviso singelo: "In God we trust. All the others pay cash." Se a maconha aqui for acida como o humor, vou precisar voltar de maca pro navio.
Alias, e' preciso explicar que a Royal Caribbean e' uma companhia americana que pode, por contrato, te obrigar a mijar num copinho se acharem que vc esta "under the influence". E um resultado positivo pode te mandar rapidinho pra casa. Assim, preferi nao voltar pro navio fedendo maconha. Minha opcao foi, portanto, Space Cake. Um muffin de chocolate que levava a mardita na receita, por seis euros. Gostosinho o bolo, nenhum efeito imediato. Meu conhecimento medico adquirido atraves de varios episodios de House ja haviam me preparado para essa possibilidade. Teria que esperar digerir o quitute para sentir os efeitos. Assim, peguei minha bike e sai por ai. Quando as pernas comecaram a reclamar, retornei ao navio, voltei pra cabine e liguei a TV. E "booom", o Space Cake agiu, me deixando idiota pelo resto da noite.
Apesar do navio estar ainda parado no porto, a sensacao que eu sentia era de que tudo se movia.
"Otimo", pensei. "Paguei seis euros para me sentir, de dia, como eu ja me sinto toda noite!"


domingo, 25 de abril de 2010

Diario de Bordo. Paris, parte II.

Em nosso ultimo capitulo, eu estava zanzando por Paris abordo de um onibus de dois andares, sem capota. Quando chegamos ao Louvre, eu desci. Nao da' pra ir a Paris e nao ver a Monalisa. E la fui eu. Ate porque o crepe desceu mal e eu precisava passar um fax urgente.
O Louvre e' um lugar enorme, dividido em quatro partes, todas lotadas como o Rio Sul em vespera de natal. Cheio de grupos de alunos de primario pra baixo e pra cima. Nunca entendi direito isso de levar moleque de oito anos no museu. Dizem que e' pra "despertar o interesse pela arte" na crianca. Acaba despertando a ulcera de quem quer apreciar o museu. Enfim.
Dizem que leva cinco dias pra ver todo o acervo. Como eu nao tinha esse tempo, me concentrei no que mais me interessava: Egito, Grecia e Monalisa. Coincidentemente, as 3 coisas ficam mais ou menos no mesmo setor. Praticamente uma linha reta. Passamos a Esfingie, a Venus de Milo e chegamos a dita cuja.
Bom, gracas ao Dan Brown todo mundo ja deve saber que a Monalisa e' um quadrinho relativamente pequeno, cercado de gente por quase todos os lados.
O que ninguem fala e' que, na parede oposta, existe um painel enorme e muito interessante, chamado Les Noces de Cana. Noites de cachaca, numa traducao aproximada, que mostra um verdadeiro pagode renascentista. Uma orgia de vinho, musica e mulherada. Nao sei se e' proposital mas, do jeito que estao dispostos, fica a impressao que a Monalisa esta numa janela, observando a baderna, algo entre condenando e se deliciando com a farra do quadro vizinho.
Antes de poder fotografar o quadro, fui achar um banheiro. E, se nao posso dizer que fui o primeiro, fui um dos que entraram para o seleto grupo de pessoas que colocaram uma obra no Louvre.

Voltei para o ponto de onibus e peguei o seguinte. Desci em Notredame.
Muito bonita a catedral, de verdade. Mas, nao sei bem porque, a de Santiago me impressionou mais. De qualquer forma, bati meu ponto, tirei minhas fotos, comprei minhas bugigangas e rumei pra estacao de trem com a sensacao de dever cumprido. Proxima parada, Amsterdan.

sábado, 24 de abril de 2010

Diario de Bordo. A Cidade Luz na mesma velocidade.

Nao e' todo dia que vc tem a chance de ir a Paris. O navio parou em Le Havre, pertinho, e rolou um tour para a tripulacao. Reservei minha vaga e acordei cedo para conhecer a cidade luz. Mas, e' claro, estou abordo do Vision of the Seas. O navio que foi construido em cima de um cemiterio viking. Esse e' provavelmente o navio mais zicado da historia - depois do titanic, claro.
Estivemos em Ilha Grande, metade da ilha desabou. Estivemos no Rio, ele alagou. Estivemos na Bahia, alagou tudo tb. Viemos pra Europa, um vulcao entrou em erupcao. E, pra finalizar, no unico dia em que estariamos em Paris, rolou uma greve no porto e os onibus de turismo nao puderam entrar. Resultado, o tour para tripulacao foi cancelado.
Eu, que trabalhei varios anos para o PT, nao ia deixar sindicalista nenhum esculhambar com o meu dia.
Sai andando, passei pelos piqueteiros e mandei um sorridente "vai tomar no seu cu, espero que vcs percam o emprego" em portugues. Eles sorriram e deram tchauzinho, sem entender a mensagem.
Andei ate a estacao de trem. Por 60 (putaquepariu!) euros, vc compra passagem de ida e volta. Sao duas horas de viagem. O que significa que eu cheguei em Paris por volta do meio-dia e que deveria estar de volta antes das sete. Em outras palavras, tinha que sair la pelas cinco. Cinco horas para conhecer Paris. Esse e' um trabalho para o Super-Amem.
primeira providencia, ir a torre Eiffel. Peguei um taxi de seis euros e estava la, debaixo da bicha (no bom sentido, claro).
Antes que perguntem, nao, nao subi ao topo. Subir ao topo da torre e' funcao para o dia inteiro. Tem fila, leva tempo. E tempo eu nao tinha. Mas comi um crepe frances la. Bem gorduroso, num guardanapo, como manda a tradicao.
Foi ai que eu decidi fazer uma coisa que nao e' muito meu estilo, mas a falta de tempo nao me dava opcao. Pegar um "Car Rouge". Sao uns onibus para turista, com segundo andar, tipo londres, e sem capota. Vc vai sentado, com fone de ouvido, escutando as explicacoes sobre os lugares onde vc esta passando. A vantagem e' que vc desce onde quiser e depois pode pegar o proximo, sem pagar a mais por isso.
Num onibus desse, eu fui ate o Louvre.
Pelo caminho, Paris faz questao de deixar qualquer um de queixo no chao. E', com certeza, a cidade mais linda que eu ja visitei.
Antes que algum carioca me xingue, deixe-me explicar a diferenca. Paris e' uma cidade de belezas naturais modestas, que algumas pessoas excepcionais transformaram num lugar magnifico, lindo pelas maos do homem. O Rio e' um lugar de belezas naturais magnificas, que alguns homens mediocres transformaram numa cidade sitiada. Afinal, nao da pra ter os dois no mesmo lugar, certo?
Meus leitores ja devem estar olhando no relogio. Continuo Paris no proximo post.

Diario de Bordo. No Pain, No Glory.

Estamos em Santiago de Compostela. Algumas pessoas caminham 45 dias para chegar aqui. Eu fiz o percurso em 30 minutos. Tudo bem que eu vim de trem-bala. Mas isso nao interessa. Eu sou a favor da perigrinacao de resultados.
O clima estava, por assim dizer, inclemente. Chovia aos cantaros, mas chegamos a famosa Catedral de Santiago.
Devo reconhecer que, em outras eras, teria aproveitado melhor o momento mistico que se desenhava a minha frente. Mas, ainda assim, tudo era bonito e emocionante.
Menos a parte em que um grupo de peregrinos chegou e uma garota do grupo mandou a seguinte frase em espanhol: Chegamos, peregrinos! Abraco de Teletubbies!
Porque eu tenho certeza de que o abraco de teletubbies foi exatamente o grau de elevacao espiritual que Santiago tinha em mente quando chegou por aqui.

Eu devia ter feito meu dever de casa e pesquisado um pouco mais sobre o local andes de ir, ou mesmo de escrever a respeito. Mas isso nao vai acontecer. Nao a 3 dias de voltar para casa. De qualquer forma, tudo em Santiago tem conchas. e' um dos simbolos da cidade. Em todo lugar que vc olhe, tem uma concha. Nao sei se, durante sua jornada, Santiago sentiu fome e Deus fez chover casquinhas de siri, ou se tudo nao passa de uma jogada de marketing da Shell. Sei que, ao ver a alegria das pessoas terminando suas jornadas na praca da catedral, da ate vontade de fazer o caminho mais longo. Mas isso vai ficar pra depois. Por hora, tenho uma cerveja pra terminar e um trem para pegar.
Amem!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Diario de Bordo. Ha uma nuvem vulcanica sobre os meus olhos...

Minha teoria e' a seguinte: O Vision of the Seas foi construido sobre um cemiterio Viking. Porque esse e' o navio mais zicado do mundo, depois do Titanic, talvez.
Senao vejamos,
Estivemos em Ilha Grande, rolou aquele deslizamento monstro. Estivemos no Rio, enchente e deslizamento. Tivemos uma quarentena por infeccao intestinal. Nossa ultima estada em Salvador, tava tudo alagado, tambem. E, agora que chegamos na Europa, tem um vulcao mandando cinza pra todo lado e fechando o espaco aereo.
Bom, voce deve estar se perguntando como isso afeta um navio de cruzeiro. Pois afeta de montao. Pra comecar, os passageiros nao conseguem chegar ate o porto de partida. Resultado. Dos dois mil hospedes, temos 800. Segundo, a tripulacao que viria render os sobreviventes da temporada brasileira nao chegou. Ou seja, quem terminou o contrato foi embora e nao apareceu ninguem para ocupar a vaga. Estamos sensivelmente desfalcados. A ponto de eu ter que fazer parte da apresentacao do Village People na festa dos anos 70. (Agora eu vou dar uma pequena pausa para voce rir da minha cara)




Muito bem, voltando.
A situacao e' tao grave que existe a possibilidade de eu nao conseguir voo de volta para o Brasil, uma vez que eu desembarco na Noruega, fechadissima.
E como nao tem outro DJ, e' bem possivel que nao me deixem desembarcar sem o substituto chegar.
Do jeito que eu estou em modo "Tolerancia Zero", e' bem provavel que eu volte a nado, se me pedirem para extender contrato.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Diário de bordo. De volta `a Ilha da Madeira.

Pois muito bem. Estamos ca’ na il’da Mada’ira, como diriam os comediantes do Zorra Total que imitam portugueses. A primeira vez em que estive por aqui, não pude aproveitar muito. Era novembro e chovia pacas. Embalado pela primavera européia, a ilhota portuguesa (sem duplo sentido) pareceu acolhedora e charmosa.
De fato, a primavera na Europa tem seu glamour. Pode-se diferenciar claramente turistas de moradores, por exemplo. Os turistas são os mal-vestidos. Por todo lado que se olhe, vemos o homens de cachecol, o que me parece sofisticado e um tanto gay, assim como esse comentário. E mulheres de bota, ah, as mulheres de bota. A gente ate esquece o chule que as beldades devem ter.
A Ilha da Madeira tem um programa clássico de turista. O teleférico que leva ao alto da cidade, seguido pela decida de cesto. Vamos por partes. Muito crew brasileiro sugere que você suba de taxi ao invés de pegar o teleférico, por ser mais barato. Bem, muito crew brasileiro possui aquela clássica pobreza de espírito que nem Mega Sena acumulada resolve. Pegue o teleférico. A viagem e’ linda e vale os 10 euros. E, ao chegar ao topo da ilha, você tem que fazer a descida do cesto. São 37 euros para três pessoas, dentro de um trenó que e’, basicamente, um cesto de vime empurrado no asfalto por dois portugueses de chapéu. Juro. Afinal, quando você pensa em eficiência no transporte publico, você pensa em um trenó de vime empurrado ladeira abaixo com dois portugueses freiando o veiculo com a sola do sapato. Depois os patrícios reclamam.
O passeio dura 2km e e’ no meio da rua, entre os carros, passando por cruzamentos. Show. O problema e’ que o passeio para antes de você estar de volta ao nível do mar. Na verdade, para bem no meio do caminho. Ai temos que pagar outros 15 euros para o taxista completar o percurso ou camelar um pouco. Como eu sou sempre a favor da interação com os nativos, optei pelo taxi. Foi bom porque pude praticar meu português.
Em seu dialeto indecifrável, o motorista me contou que Madeira havia sofrido com as chuvas. Deslizamentos, enchentes. Cenário semelhante ao do Rio, guardadas as devidas proporções. Ele me proporcionou um city tour do horror pelos escombros das casas derrubadas. “Ca morreram 4 pessoas esmagadas”, “acolá morreram doze afogadas”. Todos os lugares estavam em obras. “Tal ca’ como la’ no Rio de Janeiro vivemos de turismo, pois”, dizia o bigodudo. Sim, ele tinha bigode. “A gente sabe que turista não quer ver escombros. Por isso estamos arrumando tudo depressinha”, concluiu. Coitado. Vou contar uma piada de brasileiro pra ele.

Diário de Bordo: De Volta `a Ilha da Madeira.

Foram seis dias intermináveis de navegação ate que pudéssemos deixar para trás o território brasileiro. A medida que avançávamos em direção ao hemisfério norte, a brisa ia esfriando suavemente. Menos sutil foi a cerimônia de recepção para Netuno, simbolizando a travessia da linha do Equador (!). Funciona assim: todo navio tem pelo menos um obeso mórbido que geralmente e’ americano (vai entender) e que trabalha nos bastidores. Esse cara vai fazer as vezes de Papai Noel, Netuno, Coelho da Páscoa e outros seres mitológicos de vida sedentária. Alias, a diferença entre Papai Noel e Netuno e’ a coroa, o roupão roxo e as duas netunetes que ficam de par de vasos ladeando o trono que já foi de Santa Clauss uns meses atrás.
Mas vamos ao que interessa. Chegamos a Teneriffe, que e’ uma espécie de Punta Del Leste espanhola. O lugar e’ um paraíso fiscal e tem preços convidativos para eletrônicos e outros badulaques, apesar do euro ainda pesar um pouco. Dado interessante: as lojinhas de Teneriffe são em sua maioria geridas por indianos. Isso significa, não pechinchar meio que ofende. As lojas grandes, por sua vez, se ofendem se você tenta barganhar. Então, cuidado com o tamanho da loja. Nas grandes você tem mais garantia de proveniência e pode pagar em dólar com um cambio beeem mais interessante. Nas pequenas, o cambio e’ um assalto. Mas o preço pode cair consideravelmente.
Resultado disso e’ que gastei mais do que podia para meu humilde orçamento. Boa parte em vídeo-games (homens não crescem. Os brinquedos e’ que ficam mais caros). Com os últimos títulos do PS3 devidamente dublados em espanhol eu voltei para o navio aliviado por ter entrado em lojas que não vendiam a regata vermelha escrita “salva-gatas” que bombou na maldita temporada buziana.
Mas você deve estar se perguntando: e a ilha da madeira? Bem, como eu sei que uma boa parte dos nossos 12 leitores tem déficit de atenção e esse post já esta bem longuinho, falo das minhas aventuras por la no próximo post.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Diário de Bordo. Avisos aos Navegantes.

Nem todo mundo que visita esse blog pretende trabalhar abordo. Uma parte considerável da minha seleta audiência é formada por gente que tem interesse na experiência de cruzeiro. Pois muito bem. Vamos tirar alguns momentos para falar para esse público. Segue abaixo uma lista de coisas que todo mundo devia saber sobre cruzeiros, mas o idiota do seu agente de viagens esqueceu de mencionar.

1 - Cruzeiro é barato!
Houve uma época em que a economia brasileira não nos permitia brincar de fazer cruzeiro. Felizmente, isso acabou. Mas, o estigma da viagem de navio ser programa de velho milionário continua no imaginário da população. Bem, não é mais assim. Hoje em dia você consegue fazer um cruzeiro de 3 dias por menos de 400 reais. Em 10 vezes no cartão. Francamente, existem poucos programas de férias em que se gaste menos que isso. A sua famosa viagem de carro pra Búzios, por exemplo, vai sair beeeem mais cara, com muito mais dor de cabeça e aborrecimento do que se você entrar num navio e desembarcar lá, com todo conforto e tranquilidade.

2 - Cada um sabe o cruzeiro que lhe cabe.
Outra coisa que brasileiro ainda não entende é que o preço, ainda que convidativo, não deve ser a única preocupação. Existem cruzeiros e cruzeiros. Dependendo da época do ano, do itinerário, da companhia em que vc viaja e - principalmente - do que você espera encontrar na sua viagem de férias, você pode se dar muito bem ou muito mal, independente do quanto custou sua passagem.
Senão vejamos:
Quem gosta de balada, gente jovem e pegação (os famosos carnavios, como chamamos) deve procurar cruzeiros mais curtos, de preferência de fim de semana, fora das datas comemorativas (a não ser carnaval, claro) e entre dezembro e janeiro. De preferência, no Brasil. Se for pelos EUA, durante o Spring Break.
Outra opção para esse público são os cruzeiros temáticos. Tem pra todo mundo: Cruzeiro Sertanejo, de time de futebol, cruzeiro gay e até cruzeiro evangélico. Cruzeiros temáticos costumam ser um pouco mais caros e acontecem uma vez ao ano. Mas vale a pena para quem é fanático pelo tema em questão.
Já quem vai com família deve procurar os cruzeiros mais longos, de sete dias, durante as férias escolares e, de preferência, nas datas comemorativas (Natal, ano novo. Carnaval, melhor não.)
Se você tá se lixando para a formação escolar do seu filho, fim de temporada brasileira (março), oferece melhores preços para esses cruzeiros.

3 - Explorador dos sete mares.
Quem nunca fez cruzeiro, eu recomendo que comece pela costa brasileira. A navegação é relativamente tranquila e o choque cultural não é tão grande. Boa parte da tripulação fala sua língua, os portos são familiares, os shows são relativamente adaptados para o gosto brasileiro, assim como a balada.
Se, depois do seu primeiro cruzeiro você se animar, experimente um cruzeiro internacional. Caribe ou Mediterrâneo são boas pedidas. Aí sim você vai viver a verdadeira experiência de cruzeiro.
Acontece que o custo-Brasil prejudica muito a qualidade do serviço das companhias. A máfia do porto de Santos só permite que se comprem alimentos super-faturados e de baixíssima qualidade. O que significa queda na qualidade da comida abordo. A Máfia da marinha exige umas certificações absurdas dos brasileiros que trabalham em cruzeiro na nossa costa. Isso, por sua vez, faz decair muito a qualidade das apresentações artísticas que podem ser exibidas abordo.
Longe das nossas nefastas autoridades, a experiência da viagem de cruzeiro cresce a olhos vistos.
Melhores shows, comida de altíssima qualidade e navios realmente impressionantes, diferentes dos barquinhos que nossos portos tem capacidade de acolher.
E o preço nem é tão mais alto. Em fim de temporada pelo mediterrâneo, um cruzeiro de sete dias pode sair razoáveis 1500 dólares (antes que os sovinas de plantão gritem, esclareço. São seis portos, 3 países com tudo incluso. Tente fazer o mesmo itinerário por sua conta e veja quanto sai).
Agora, quem quer ir pra balada, fique no Brasil. Cruzeiros pela Europa são cheios de famílias, velhos e obesos mórbidos. Mas, se você vier com um grupo festeiro, dá pra virar o jogo.

4 - Crossing é pra profissional ou pra mudança.
Muita gente fantasia fazer a travessia do Oceano Atlântico num navio de cruzeiro. Só recomendo para quem já tem algum tempo de férias em cruzeiro. A travessia é feita em baixa temporada (mares revoltos) leva cerca de 14 dias (sendo que seis são em alto mar) e costuma ser bem claustrofóbico. No entanto, é uma boa opção para quem está de mudança para um outro continente. Como o navio não cobra excesso de bagagem, dá pra colocar sua casa abordo. Desde que ela caiba na sua cabine dentro do navio. E, dependendo da cabine, não cabe muita coisa não.

5 - Vai de suíte, seu muxiba!
As cabines mais baratas de um navio de cruzeiro ficam geralmente no segundo andar. As janelas mal e porcamente podem receber esse nome e o conforto é mínimo. Um upgrade para uma suíte pode fazer toda a diferença em termos de conforto, com direito a sacada e tudo mais. Eu recomendo.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Diario de Bordo. Se você pensa que cachaça é água.

Hóspede brasileiro é um cara engraçado. Sempre tentando dar um jeito de burlar a lei do navio. Tem gente que pega pesado, trazendo 300 pastilhas de ecstasy pra vender pra geral. Mas a maioria só tem um sonho náutico: entrar no navio com cachaça.
Obviamente, é proibido. Ora bolas, boa parte do lucro da companhia vem da venda de álcool.
E existem tantas outras companhias onde bebidas são incluídas na passagem que você paga em 10 vezes de 30 reais no cartão sem juros e sem entrada. Não precisa vir fazer baixaria na nossa firma.
E mesmo outras concorrentes, como a Costa, que também não permitem que se traga mé abordo, costumam ser menos vigilantes. Mas na Royal, não rola.
De qualquer forma, é super divertido observar as criativas tentativas de contrabando que aparecem todo santo cruzeiro.
A mais comum, é claro, é a garrafa de água mineral cheia de vodka. No MOB, a rave do navio, teve um cara-de-pau que trouxe dois galões de seis litros cheios de "água mineral". Pessoalmente eu acho que tinha que ter deixado o cara entrar com a mercadoria e fazer o cidadão beber os 12 litros de vodka nos 3 dias de cruzeiro. Porque gente sem noção não precisa de fígado, né?
Toda bagagem que entra no navio passa por duas máquinas de raio x. Uma na alfândega, procurando por armas, bombas, etc., e outra já abordo, buscando a mardita. Algumas "mentes da ciência" acreditam que, se você embrulhar a garrafa em papel carbono, o raio-x não vai ver o líquido. Vê, sim.
Tem gente que se inspira no Código DaVinci. Um embrulho de presente. Você abre o papel de embrulho, é uma caixa de secador de cabelo. Você abre a caixa, tem uma bola de papel jornal. Dentro da bola de papel jornal, tem um vidro de perfume. Dentro do vidro de perfume: Smirnoff Ice. Tudo bem que pra alguns é uma arte, mas é muito trabalho pra passar atestado de pobre, não é?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Diário de Bordo. É Carnaval em Salvador.

Uma expressão conhecida entre os hóspedes acostumados com a rotina de navio é o famoso "carnavio", que é, obviamente, um cruzeiro feito durante o carnaval. Fora deste contexto, usamos a expressão para qualquer itinerário em que haja muitos jovens, muita gente festeira, muita bebedeira e pegação dentro de um navio de cruzeiros. Charters - aqueles que falamos anteriormente - são considerados carnavios. E cruzeiros de fim de semana que custam 400 reais e podem ser pagos em 10 vezes no cartão, tipo Casas Bahia, também costumam ser carnavios.
Daí, era de se esperar que o cruzeiro de carnaval fizesse jus ao nome. Bem, fez e não fez.
Sem dúvida, muitos jovens, sem dúvida, muita festa. Boate aberta até as sete, oito da manhã (ontem, por exemplo, fechei as três.) enfim. Tudo como manda o figurino, mas com uma relativa paz e tranquilidade que davam gosto. Foi tudo muito agradável. Até chegarmos em Salvador para o nosso overnight.
Overnight é quando um navio "dorme" no porto, possibilitando aos hóspedes a visitação das cidades durante a noite. Nada melhor para uma terça de carnaval. A tripulação do navio estava em polvorosa com a idéia do overnight. Muitos compraram camarotes a 400 reais a cabeça para poder ver o trio elétrico passar. Eu fiquei no navio. Afinal, a boate tinha que ficar aberta.
Não gosto de me depreciar muito. Mas pense comigo. Entre pular atrás do bloco do Chiclete com Banana e da Ivete Sangalo e ficar na Viking Crown ao som do DJ Rodrigo Amém, o que você teria feito? Pois não é que um grupinho de umas 50 pessoas preferiu ficar na boate?
Porque essas pessoas resolveram fazer cruzeiro de carnaval em Salvador está além da minha compreensão.
Mas outras coisas que eu não compreendia foram-me elucidadas. Uma hóspede, expert em folia soteropolitana, explicava para as amigas a melhor estratégia para pular atrás do trio.
Segundo ela, o segredo é usar bermuda de cores escuras e carregar sempre uma garrafinha de água mineral. Porque, no meio do trio, a garota vai sentir vontade de fazer xixi. Aí o esquema é fazer na calça e se lavar com a água mineral. Juro por Deus que ela mandou essa como se fosse o segredo para cultivar azeitona sem caroço.
Posso ser um cara meio reacionário, mas dificilmente me convenceriam a pagar 400 reais por uma camiseta feia e biodegradável que me dá direito a passar calor espremido no meio de uma multidão suada que urina nas calças, lava com agua mineral quente e depois tenta me beijar na boca.
Haja rebolation.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Diario de bordo. Charters - Parte IV

E o último cruzeiro fretado desta temporada do Vision of the Seas foi o Freedom, o cruzeiro gay. Ou GLS. Ou GLBT. Ou sei lá qual o nome que se dá pra esse pessoal que mexe com dação de bunda. Mas o fato é que o cruzeiro foi um sucesso. A produção trouxe quilos de equipamentos, trocentos DJs, muito luxo, glamour e purpurina do jeito que a clientela gosta.
Foi um cruzeiro até mais ecológico. Pudemos desligar o ar condicionado e poupar energia, porque a frescura dentro do navio era tanta que já resolvia a situação.
Atingimos a lotação máxima do Vision. Achei até que não teria jogo do São Paulo na rodada.
Piadas à parte, foi um cruzeiro que deu bastante trabalho.
Tivemos palestras de sensibilização sobre como tratar os passageros. Desde coisas óbvias como não ficar olhando com cara horrorizada os dois lutadores de jiu-jitsu se beijando na piscina até coisas mais risíveis como usar o genero feminino tanto para homens quanto para mulheres.
Tivemos várias prisões por tráfico de drogas. Mas, no geral, foi um cruzeiro pacífico.
Mais uma vez, não trabalhei. E mais uma vez, fizeram uma festa para o crew. Só que, desta vez, a festa foi no clubinho de recreação infantil, que estava obviamente fechado para o evento.
Desta vez, bebi moderadamente. Pena que o mesmo não pode ser dito do meu chefe, que tomou todas e derrubou cerveja na mesa de som do clubinho, acabando com a festa. Ah, claro. E teve um baile de máscaras onde a criatividade dos hóspedes A-RRA-SOU!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Diario de bordo. Charters - Parte III

Nosso terceiro charter foi a famosa rave MOB - Music on Board. Provavelmente os 3 dias mais surreais da minha vida.
Vamos comecar pelo embarque. Quem ja fez cruzeiro com a Royal sabe que não é permitido o embarque com bebida alcoólica na bagagem. A razão é simples: a cia vende bebida abordo.
Se o cruzeiro for pela Costa, MSC e similares, você provavelmente vai conseguir embarcar com um alambique, uma vez que estas companhias já tem tradição em cruzeiros piriguetes.
Além do mais, se você precisa economizar colocando bebida dentro da mala, é melhor repensar suas férias. Cruzeiro não é pra você. Que tal uma pousadinha em Rio das Pedras?
Pois os nossos diletos passageiros do MOB tentaram. E tentaram meeesmo. Você pode não acreditar, mas apreendemos 2 mil litros de bebida alcoólica. A pergunta que não quer calar: o que é feito desse material todo? Bem, o que esta devidamente lacrado dentro das garrafas originais é etiquetado e devolvido no fim do cruzeiro. O que foi "sagazmente" disfarçado e retido permanentemente. E a gente bebeu tudo. Mas já chego lá.
A criatividade dos mesquinhos parece não ter fim. Um fulano trouxe para o navio dois galões de água mineral de seis litros, cheios de vodka. Muito obrigado, senhor.
Outro, colocou whisky numa bolsa térmica, daquelas que você usa quando machuca o joelho. Muita gentileza, meu amigo.
E tem até quem coloque pinga em frasco de shampoo. Se me perguntarem, uma pessoa que faz isso devia ser afastada do convívio social com gente civilizada. Muito obrigado, de qualquer forma.
A melhor parte era ver os nossos diletos hóspedes dando chilique por causa da bebida apreendida. Tinha fulano que dava carteirada:
- Porque meu pai é Procurador da República, vocês não podem fazer isso! - Pena que o Procurador não procurou fazer o teste do pezinho no filho quando ele era novo, pensava eu.

Outros aproveitavam a aglomeração para pagar de playboy:
- Eu estou na suite mais cara desse navio e não admito isso! - Eu também não gosto de admitir, meu amigo, mas acho que o senhor devia investir sua fortuna em educação. Na sua, claro.

Tirando a mesquinhes e superficialidade, nossos hóspedes durante o MOB era lindos. Eu nunca vi tanta mulher linda junta em toda a minha vida. Os homens todos criados a redbull e fortificante para cavalo. Se o navio começasse a afundar, provavelmente ficariamos à tona, tamanha era a quantidade de silicone abordo.
Som e luz bombando, um milhão de DJs tocando a mesma musica durante 3 dias, os lounges com as Djeias gostosas fazendo pose, enfim, toda aquela indústria que permite fraudes como o Jesus Luz. Uma honrosa exceção foi a apresentação do Ask 2 Quit, com a participação do Saxofonista do Kid Abelha, que teve a manha de, durante seu solo, tropeçar e cair dentro da piscina, com sax e tudo. Show!

Quanto a bebida apreendida, a tripulação fez uma festa regadíssima no fosso da orquestra, no teatro. A única noite em que trabalhei. Como não dava pra saber exatamente que bebida era o que, os drinks ficaram meio que aleatórios. Minha última lembrança daquela noite foi eu, um filipino da casa das máquinas, uma chinesa da limpeza e um segurança inglês pulando descontroladamente no deck da piscina.

Saldo total, 4 presos por narcotráfico, 3 overdoses e a piscina tá fedendo a vômito até agora.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Diario de bordo. Charters - Parte II

Nosso segundo charter foi o Energia na Ve'ia, uma evento promovido pela Energia Fm, uma radio de Santos. Trata-se de um evento bem estranho. E' uma especie de rave de flashbacks. Os organizadores trazem uma quantidade enorme de equipamento a bordo, montam palcos gigantes na piscina e trazem seus proprios Djs, varios deles, cada um um nome de trabalho mais interessante. DJ Wagnão, por exemplo. Não sei quanto a vocês, mas pra mim, Wagnão nao é nome de DJ. É nome de quem dirige Opala 76. Mas olha só o DJ Rodrigo Amém falando, né?
O clima da festa lembra uma festa ploc, ou talvez uma daquelas festas chamadas Bailinho, no Rio de Janeiro. (para quem não é do Rio, eu explico. Bailinho é uma festa hype carioca, onde vc vai ver atores fingindo que são Djs para um público que paga uma fortuna só pra estar na mesma festa em que celebridades entram de graça). O povo não é muito jovem. Já estão naquela idade em que é legal ter saudade do MC Hammer. Então é uma balada onde o DJ manda um Kiss, do Prince, e a galera vai à loucura. Cada um com seu cada qual.

A vantagem do Energia na Véia é que, como eles trazem os Wagnões da vida, eu não preciso trabalhar. Depois de tocar todos os dias desde agosto, sem folga, esse break foi uma benção.
Eu pude ir ao back deck pela primeira vez no meu contrato. Em tempo: back deck é o bar destinado exclusivamente para a tripulação do navio, já que muitos funcionários não podem frequentar as áreas de hóspedes. A maioria, na verdade.
E foi lá que eu me dei conta de uma coisa trágica. O meu não-pertencimento à tripulação.
Meus horários de trabalho não me permitem interagir com meus colegas de trabalho.
Todos no back deck já estavam devidamente entrosados, nos mais variados níveis. Todos já tinham vínculos que os ajudavam a atravessar as dificuldades de nossa bizarra jornada de trabalho. Eles eram uma tribo da qual eu não fazia parte.
Claro, todo mundo abordo sabe quem é o DJ, assim como quem é o Comandante do navio. Mas ninguém me conhece. Poucos amigos, ninguém com quem conversar, nenhuma afinidade com ninguém. Descobri que sou o único tripulante navegando sozinho ao som do DJ Wagnão e seu Opala 76.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Diario de bordo. Charters - Parte I

Minha ausencia nao se justifica, mas se explica. Acabou a temporada de Charters no navio.
Charter e' todo cruzeiro que tem um tema, um publico especifico ou quando uma empresa ou organizacao literalmente "aluga" o navio e promove as vendas e os eventos a bordo.
Tivemos quatro desses eventos num intervalo de um mes. O primeiro foi o cruzeiro catolico.
Ai teve missa todo dia, aquelas aerobicas de Jesus. Teve uma rave catolica chamada Tecno-Cristo. Juro. E pior, tivemos ocorrencias medicas de pessoas que desmaiavam porque estavam tomadas pelo Espirito Santo. Ou seja, Jesus voltou e esta entre nos, so' que na forma de bala.
Nada como uma blasfemia para me fazer sorrir numa sexta-feira de carnaval.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Diario de Bordo. O Piscinão




Essa e' a Viking Crown vista de fora. Essa torre redonda e' o nosso ambiente de trabalho. De la, temos uma visão privilegiada da piscina e das quatro jacuzzis. Mesmo assim, ainda não vi nenhuma criancinha se afogando. A esperança e' a ultima que morre.