segunda-feira, 22 de março de 2010

Diario de Bordo. Se você pensa que cachaça é água.

Hóspede brasileiro é um cara engraçado. Sempre tentando dar um jeito de burlar a lei do navio. Tem gente que pega pesado, trazendo 300 pastilhas de ecstasy pra vender pra geral. Mas a maioria só tem um sonho náutico: entrar no navio com cachaça.
Obviamente, é proibido. Ora bolas, boa parte do lucro da companhia vem da venda de álcool.
E existem tantas outras companhias onde bebidas são incluídas na passagem que você paga em 10 vezes de 30 reais no cartão sem juros e sem entrada. Não precisa vir fazer baixaria na nossa firma.
E mesmo outras concorrentes, como a Costa, que também não permitem que se traga mé abordo, costumam ser menos vigilantes. Mas na Royal, não rola.
De qualquer forma, é super divertido observar as criativas tentativas de contrabando que aparecem todo santo cruzeiro.
A mais comum, é claro, é a garrafa de água mineral cheia de vodka. No MOB, a rave do navio, teve um cara-de-pau que trouxe dois galões de seis litros cheios de "água mineral". Pessoalmente eu acho que tinha que ter deixado o cara entrar com a mercadoria e fazer o cidadão beber os 12 litros de vodka nos 3 dias de cruzeiro. Porque gente sem noção não precisa de fígado, né?
Toda bagagem que entra no navio passa por duas máquinas de raio x. Uma na alfândega, procurando por armas, bombas, etc., e outra já abordo, buscando a mardita. Algumas "mentes da ciência" acreditam que, se você embrulhar a garrafa em papel carbono, o raio-x não vai ver o líquido. Vê, sim.
Tem gente que se inspira no Código DaVinci. Um embrulho de presente. Você abre o papel de embrulho, é uma caixa de secador de cabelo. Você abre a caixa, tem uma bola de papel jornal. Dentro da bola de papel jornal, tem um vidro de perfume. Dentro do vidro de perfume: Smirnoff Ice. Tudo bem que pra alguns é uma arte, mas é muito trabalho pra passar atestado de pobre, não é?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Diário de Bordo. É Carnaval em Salvador.

Uma expressão conhecida entre os hóspedes acostumados com a rotina de navio é o famoso "carnavio", que é, obviamente, um cruzeiro feito durante o carnaval. Fora deste contexto, usamos a expressão para qualquer itinerário em que haja muitos jovens, muita gente festeira, muita bebedeira e pegação dentro de um navio de cruzeiros. Charters - aqueles que falamos anteriormente - são considerados carnavios. E cruzeiros de fim de semana que custam 400 reais e podem ser pagos em 10 vezes no cartão, tipo Casas Bahia, também costumam ser carnavios.
Daí, era de se esperar que o cruzeiro de carnaval fizesse jus ao nome. Bem, fez e não fez.
Sem dúvida, muitos jovens, sem dúvida, muita festa. Boate aberta até as sete, oito da manhã (ontem, por exemplo, fechei as três.) enfim. Tudo como manda o figurino, mas com uma relativa paz e tranquilidade que davam gosto. Foi tudo muito agradável. Até chegarmos em Salvador para o nosso overnight.
Overnight é quando um navio "dorme" no porto, possibilitando aos hóspedes a visitação das cidades durante a noite. Nada melhor para uma terça de carnaval. A tripulação do navio estava em polvorosa com a idéia do overnight. Muitos compraram camarotes a 400 reais a cabeça para poder ver o trio elétrico passar. Eu fiquei no navio. Afinal, a boate tinha que ficar aberta.
Não gosto de me depreciar muito. Mas pense comigo. Entre pular atrás do bloco do Chiclete com Banana e da Ivete Sangalo e ficar na Viking Crown ao som do DJ Rodrigo Amém, o que você teria feito? Pois não é que um grupinho de umas 50 pessoas preferiu ficar na boate?
Porque essas pessoas resolveram fazer cruzeiro de carnaval em Salvador está além da minha compreensão.
Mas outras coisas que eu não compreendia foram-me elucidadas. Uma hóspede, expert em folia soteropolitana, explicava para as amigas a melhor estratégia para pular atrás do trio.
Segundo ela, o segredo é usar bermuda de cores escuras e carregar sempre uma garrafinha de água mineral. Porque, no meio do trio, a garota vai sentir vontade de fazer xixi. Aí o esquema é fazer na calça e se lavar com a água mineral. Juro por Deus que ela mandou essa como se fosse o segredo para cultivar azeitona sem caroço.
Posso ser um cara meio reacionário, mas dificilmente me convenceriam a pagar 400 reais por uma camiseta feia e biodegradável que me dá direito a passar calor espremido no meio de uma multidão suada que urina nas calças, lava com agua mineral quente e depois tenta me beijar na boca.
Haja rebolation.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Diario de bordo. Charters - Parte IV

E o último cruzeiro fretado desta temporada do Vision of the Seas foi o Freedom, o cruzeiro gay. Ou GLS. Ou GLBT. Ou sei lá qual o nome que se dá pra esse pessoal que mexe com dação de bunda. Mas o fato é que o cruzeiro foi um sucesso. A produção trouxe quilos de equipamentos, trocentos DJs, muito luxo, glamour e purpurina do jeito que a clientela gosta.
Foi um cruzeiro até mais ecológico. Pudemos desligar o ar condicionado e poupar energia, porque a frescura dentro do navio era tanta que já resolvia a situação.
Atingimos a lotação máxima do Vision. Achei até que não teria jogo do São Paulo na rodada.
Piadas à parte, foi um cruzeiro que deu bastante trabalho.
Tivemos palestras de sensibilização sobre como tratar os passageros. Desde coisas óbvias como não ficar olhando com cara horrorizada os dois lutadores de jiu-jitsu se beijando na piscina até coisas mais risíveis como usar o genero feminino tanto para homens quanto para mulheres.
Tivemos várias prisões por tráfico de drogas. Mas, no geral, foi um cruzeiro pacífico.
Mais uma vez, não trabalhei. E mais uma vez, fizeram uma festa para o crew. Só que, desta vez, a festa foi no clubinho de recreação infantil, que estava obviamente fechado para o evento.
Desta vez, bebi moderadamente. Pena que o mesmo não pode ser dito do meu chefe, que tomou todas e derrubou cerveja na mesa de som do clubinho, acabando com a festa. Ah, claro. E teve um baile de máscaras onde a criatividade dos hóspedes A-RRA-SOU!