quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Diário de Bordo. A Vida no U do Mundo.

É difícil explicar para quem não é do ramo como é viver nesta cidadela sobre as águas de onde escrevo. Voyager of the Seas é um dos maiores navios do mundo. São 14 andares, mais de 300 metros de comprimento, cerca de 5 mil pessoas a bordo. Leva mais ou menos um mês pra se acostumar a transitar pelas dependências sem se perder. Mas, para fins pedagógicos, pode-se dizer que o Voyager é uma imensa letra U, pelo menos do ponto de vista dos funcionários.
Como quase tudo que é de interesse dos guests fica no meio do navio, o backstage fica, normalmente, nas extremas popa e proa do navio. Minha cabine, por exemplo, fica na proa. E todos os restaurantes, sejam de funcionários ou não, ficam na popa. Isso significa que toda e qualquer refeição é precedida e seguida de uma caminhada de 300 metros, além de um lance de escadas de cinco andares. Ao final da primeira semana, você começa a se questionar quem tem prioridade, se suas pernas ou seu estômago. É preciso lembrar que as áreas para funcionários fumantes também ficam nas cercanias dos bares e refeitórios. Ou seja, seu cigarrinho também fica a mais ou menos 700 metros de distância. Haja pulmão, veja que ironia.
Não me lembro se já expliquei isso, mas existem basicamente 3 castas entre os funcionários no navio: os oficiais – das mais variadas “patentes” e naturezas –, o staff, do qual eu faço parte, juntamente com todo mundo que faz parte das atividades sociais e de diversão dos guests, e o crew, que é formado basicamente por todo mundo que é da área de serviços, bares e restaurantes. Então a maior parte das coisas destinadas para staff e oficiais é de boa qualidade. A comida, por exemplo, não posso reclamar. Temos variedade, quantidade e qualidade. Do café da manhã à sobremesa, chegando ao estranho cafezinho. Mas aí já é uma diferença cultural mesmo.
Infelizmente, não se pode dizer o mesmo do refeitório do crew. Como a maior parte dos crew members é de indianos e filipinos (inclusive os cozinheiros do refeitório), tudo que é servido por lá tem cara de comida indiana servida num trailer de praça em Xerém. Assim que vi a situação dos meus camaradas do bar, meu lado CUT acordou do sono de décadas. Sugeri que se organizassem, formassem um grupo de representantes, exigissem mudanças na qualidade da comida servida. A maioria responde dizendo que, quando vc trabalha 12, 14 horas por dia, não sobra muito ânimo para atividade sindical. E a comida? “Você se acostuma. Ou emagrece.”

4 comentários:

  1. Muito legal seu blog, parabéns!! Já add nos meus favoritos, embarco em novembro no Splendour of The Seas, como Bar Server. See you! ;*

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  2. é...difícil. caviar aos reis, e lavagem aos porcos. cuidado para não te jogarem ao mar...rs

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  3. É por isso q no meu primeiro contrato eu perdi 10 quilos!! Não me acostumei com a comida de jeito algum!
    Quanto ao Vision.... Nos vemos por lá. Embarcarei no Vision dia 19 de outubro. Eita mundo pequeno, hein?! heheheh
    A minha sorte é q a Royal pagou o meu STCW enquanto eu estava a bordo do Radiance...
    Enfim, força pq depois da "infeliz" temporada pelo Brasil, iremos rumo a Europa.
    Enquanto isso, aproveite!
    Bjos e sucesso aí!

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  4. eu era crew, e emagreci. nos 2 últimos meses só comi salada e pastries.

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