quinta-feira, 3 de junho de 2010

Diário de Bordo. Valeu a pena ser pescador de ilusões?

Escrevo a vocês um mês depois de ter encerrado meu contrato. A razão da distância foi ter alguma... distância emocional pra chegar a conclusões que fizessem sentido. Não sei se vou conseguir, mas vamos lá.
Primeiro, a decisão: não vou fazer outro contrato. Ainda que deva reconhecer que me ofereceram um excelente navio – o Navigator of the Seas – num excelente roteiro – Mediterrâneo ocidental e oriental. Mas decidi não aceitar. Eis o porquê.
Muitas perguntas me foram feitas desde que cheguei. A mais constrangedora foi: Valeu a pena? E eu realmente não sei responder isso. Até porque eu não sei o que é valer a pena.
Vale a pena quando você atinge seus objetivos ou quando o processo em si é prazeiroso?
Conheci lugares que não teria conhecido não fosse pelo trabalho em cruzeiros. Muitos maravilhosos. Depois de um certo tempo, já não sabia em que parte do mundo estava. E não me importava com isso. Conheci pessoas de todo o planeta, de algumas delas, jamais me esquecerei. Mas a maior parte do tempo me sentia sozinho.
Tive a oportunidade de aperfeiçoar meu trabalho artístico, tanto no humorismo quanto como DJ em níveis que me custariam anos de prática em terra firme. Ainda assim, fora dos mares, sinto que terei que recomeçar minha carreira da estaca zero. Ficar nove meses longe do mercado é arriscado.
Talvez, se eu tivesse 23 e não 33 anos, eu encararia mais um ou dois contratos. Mas o navio me custou muito. Perdi saúde, boas oportunidades de trabalho no continente, um grande amor. Sinto como se tivesse envelhecido uns 15 anos.
Mas isso não quer dizer que eu me arrependa. Acho que era algo que eu precisava viver. Voltei uma pessoa diferente. Pra pior e pra melhor.
Agradeço a todos que visitaram esse blog. Em boa parte do tempo, pensar nas bobagens que eu contaria para vocês foi um alívio e tanto. Lamento muito se eu não posso responder a pergunta que a maioria dos leitores tenta esclarecer quando cai por aqui depois de uma pesquisa no Google. Vale a pena trabalhar em navio?
Depende do que você quer, depende o que você busca, depende quem você é. Mas saiba que você vai descobrir que aquilo que você quer, busca ou é geralmente muda durante a jornada. É uma boa aposta para quem não tem nada a perder. Para todos os outros, uma loteria.
Em tempo: pretendo continuar narrando minhas desventuras, ainda que entenda que o apelo de uma vida em terra firme não seja tão forte. Os que quiserem continuar me acompanhando, serão mais que bem-vindos. WWW.meiapalabas.blogspot.com

6 comentários:

  1. Ae meu irmão, e amigo rodrigo de souza espirito santo, amem...com certeza a tua experiencia nessa loucura nunca mais esquecerá, e as coisas que teoricamente perdeu reconquistará. Um abração do amigão aq kauhe prieto...

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  2. olha, o kahuê! gente fina. mas pra falar do post, eu compreendo perfeitamente tudo isso. recomeçar da estaca zero é um fato. que a gente volta diferente pra casa é outro. perfer e ganhar é consequencia dessa vida louca de navio, desse mundo a parte, que só entende (ou tenta entender) quem já passou por isso. boa sorte na terra firme e no recomeço. ;)

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  3. Decisão difícil, mas coragem!
    Você está além de quem só fez escola em terra firme!!!!!
    Nunca é tarde pra recomeçar!
    Vou sentir falta dos posts!
    Me desculpe por ter comentado tão pouco!!!!!
    Já estou te seguindo no blog novo!!!!
    Beijos!!!!!

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  4. Ai ai... vou sentir falta. Vc é bem divertido! Sabe, fico pensando todos os dias num amigo que partiu há 4 meses num navio pra tentar ser músico, que finge que está bem, que está feliz, mas eu percebo claramente que ele não tá nada feliz e que ele esté perdendo muito mais coisas ficando em alto mar do que aqui em terra. Chega uma hora que quem está em terra cansa de esperar, memso gostando muito. Isso é uma loucura que leva nada a lugar nenhum...

    Boa sorte pra ti Amém!!!!!!!

    Bjs,

    Michele

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  5. Puxa, Amém! As escolhas são interessantes, né? Eu vivo na frente de um PC, sou um cara casado. Posso me dizer que me enquadro na categoria "feliz". Tenho minhas frustrações e meus louros. Sou hoje praticamente o perfil Hommer Simpson do William Bonner. Acho que nunca teria a coragem que você teve de fazer as escolhas que fez. O que experienciou em alto mar é único. Ir a turismo numa canoa dessas já deve ser algo pro resto da vida... agora, ir e ser parte disso, conhecer o backstage, o lixo e o luxo, imagino ser mágico. Isso sem falar de lugares e pessoas que tatuam suas assinaturas no seu coração pelo caminho. Talvez você vá colher os benefícios da sua experiência mais tarde. O momento é de mudança. Amém, quero dizer que apesar de anos sem nos vermos e raríssimas vezes nos falamos desde a infância, sou um fã seu. Lembrando das pessoas interessantes que conheci, coloco o Amém nas poucas sensacionais "larger than life people". Pessoas que tem um jeito de pensar que te faz pensar. Caso passe por CG ou SP me liga. Será um prazer tomar "um chops e dois pastel" contigo. Um abração!
    Sua alma não é pequena, Amém.

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  6. Amor.. Isso é mesmo importante, ainda mais pra um pisciano como vc.. artista, sensível.. =)
    Camile me disse que vc estava num navio, só não tinha me dito nada parecido com o que eu li.
    Vou embarcar num navio da Costa, ainda esse ano (acredito) e vou passar um tempo lá tentando me encontrar.. Pra quem já está perdida talvez seja uma boa experiência.
    Pretendo juntar uma graninha e voltar pra fazer a carreira acontecer, ou nem voltar.. quem sabe?
    Tô out do mercado, perdi meu grande amor domingo passado e me considero apta pra embarcar nessa.
    O q vc acha?

    Beijo!
    Carol (ex)Milongas

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